Acredito nela.
Melhor dizendo, tive de ir acreditando. As agruras da vida não me deixaram outra hipótese senão acreditar.
Dois acontecimentos que já evoquei por aqui são prova disso. (
este e
aquele)
Aquilo que aconteceu à nossa Selecção no domingo é, quanto a mim, mais uma das suas manifestações.
Tenho de ser sincera (como sempre o sou, aliás). Não acreditava na vitória de Portugal contra à França. Não mesmo. Queria que Portugal vencesse, naturalmente. Mas não tinha fé nisso. Nenhuma.
Na véspera do jogo, cheguei a falar do assunto com a minha irmã ao telefone e ela estava com mais esperança do que eu. Ela - a Francesa que nasceu em Portugal e vive em França - acreditava que, por um qualquer deslize francês, Portugal poderia ser campeão . Eu - a Portuguesa que nasceu em França e vive em Portugal - achava que Portugal iria acusar a pressão e ficar-se pelo segundo lugar.
Depois, aconteceram umas cenas, no domingo à tarde, que me deixaram bastante lixada. E digo 'lixada' para não usar outro termo mais adequado mas também mais mal educado. E eu não tenho por hábito escrever palavrões por aqui, apesar de reconhecer que se desenvolveu uma espécie moda blogueira à volta disso. Eu é que não sou de modas. Mania minha.
Estava então bastante lixada, no domingo à tarde. E, pelas oito da noite, quando se iniciou o jogo, continuava igual. Pior ainda, talvez. Que isto de se estar menos bem parece que fermenta, como qualquer boa levedura e vai aumentando de volume, com o passar do tempo.
Sentei-me no meu sofá vermelho, profundamente lixada e descrente, para ver a final do Euro dois mil e dezasseis. Mas, mal comecei a ouvir o hino de Portugal, qualquer coisa começou a fervilhar dentro de mim. Senti como que um formigueiro a passar-me pelo corpo e, não deixando de estar lixada, comecei a ganhar uma fé, vinda não sei bem de onde. E comecei a acreditar que Portugal poderia vencer a França. Esse acreditar aumentou exponencialmente quando vi, na minha televisão que está quase quase a dar o berro, o Cristiano Ronaldo em grande plano, no chão, a chorar, com uma borboleta a beijar-lhe a face. Senti ali um misto de emoções. Uma certa tristeza, pelo facto de o capitão da equipa das quinas não poder dar o seu contributo, nesta oportunidade única de ganhar o título de Campeão Europeu. Mas também uma esperança muito mais nítida de que iríamos ganhar a competição. Sim, fui daquelas pessoas a ter a certeza de que a equipa portuguesa iria dar o litro para honrar o seu capitão lesionado. Sim, também sou daquelas pessoas que, por muito que admire o Cristiano Ronaldo como jogador e não só (faço parte de uma minoria, eu sei), não acham que, sem o melhor do mundo, a Selecção não vale nada. Vale sim. Não nego que sofri um pouco ao longo do jogo porque, por mais que acreditasse na vitória, tinha receio que o raio do destino nos trocasse as voltas.
O meu feeling de vitória foi mais longe. Sabia, porque sabia, que
não iríamos a penaltis. Para Portugal ganhar, tudo teria de ser
resolvido antes. E resolveu-se.
Vamos lá então explicar o porquê de a lei da compensação ter estado a funcionar em pleno, nesta final de campeonato.
Portugal perder era duplamente lixado para mim. É que, como estou farta de dizer desde o início deste post, já estava lixada antes do jogo. E, se Portugal perdesse, era mais uma lixadela a acrescentar à outra. Eu precisava, não só de um ponto de vista patriótico mas também profundamente egoísta, que Portugal ganhasse. Naquele momento, só a vitória da Selecção me poderia ajudar a ficar menos mal. Era a compensação que me poderia ajudar a relativizar aquilo que me estava a lixar desde o início daquela tarde.
Eu sei que a malta que se deu ao trabalho de ler este extenso e cansativo texto deve estar a pensar que eu sou uma maluquinha armada em importante.
Com que então a lei da compensação entrou em campo [bem metida, esta expressão, hein?] só porque a menina Mam'Zelle estava menos bem e precisava de uma alegria para lhe dar a volta ao estado de espírito? Com que então, Portugal ganhou para alegrar aqui a Mam'Zelle? Não querias mais nada, não?
Acredito. Acredito que a lei da compensação funcionou para mim.
Para mim e para uma catrefada de Portugueses que têm uma vida lixada.
Acredito que a lei da compensação se deu porque o povo português está farto de ser fodid* a torto e a direito.
Pronto, lá saiu o palavrão. As minhas mais sinceras desculpas.
O que me salva é ser Portuguesa.
Campeã de um Europeu, portanto.
Isso, ninguém me tira.
E acabou por compensar, mesmo que de forma momentânea, as agruras da vida;
da minha e de qualquer outro Português que vibrou com este Europeu.