quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Petit plaisir délicat*


Eu, que nunca fui uma apaixonada de loiça por lavar, dou por mim a lavá-la com agrado. 
Enquanto passo a esponja cheia de espuma pelos pratos manchados com vestígios de outros prazeres, espero por aquele momento.
Vou tentando estar alerta. Vou tentado estar atenta à sua chegada. Mas uma distraída inveterada nunca deixa de o ser. Não consigo dar por ele a chegar, esse prazer delicado que me leva a lavar loiça com alguma satisfação.
Quando menos o espero, lá está ele. De repente, sinto um abraço apertado. Sinto-te os braços, à volta da minha cintura. Sinto-te as mãos, cruzadas a aconchegarem-me a ti. Sinto-te os lábios no meu pescoço. A tua respiração lenta na minha pele. A tua respiração transformada em beijo. No melhor beijo que se possa receber.
Fecho os olhos e, por instantes, já não há loiça por lavar. Já não há paredes à nossa volta. Já não há gente. Já não há mundo. Só tu e eu. 
Um contra o outro.
Um com o outro. 
Tu e eu.


[19 de Novembro de 2015]




* singela homenagem a Philippe Delerm. Quem pegou o meu livro emprestado que mo devolva. Merci.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O [teu] vestido azul


Nunca fui de comprar a minha roupa a pensar em alguém. Quando compro roupa é a pensar em mim. Compro porque preciso, porque acho que me fica bem, porque é confortável, porque é barato, porque é diferente, porque é engraçado, porque é a minha cara, porque me faz sentir bem e por aí fora. (puxa que quase fiquei sem fôlego.)

Ontem, pela primeira vez, comprei um vestido a pensar em ti. 
Entrei na loja, a ver se desencantava um top de alças cinzento, básico e baratinho, porque preciso. E dei de caras com um certo vestido. Estava ali - no meio de uma catrefada de trapos da moda - indecente de tão diferente das outras peças que o acompanhavam naquele expositor de cabides cheios de tecidos coloridos. 
Foi aquela renda toda que, primeiro, chamou a minha atenção. Peguei no cabide e virei o vestido para mim. Renda e transparência. Assim se pode resumir a parte de cima do modelito. Sensualidade pura até à cintura, foi isso que eu vi. E, por mais estranho que pareça, não pensei logo em mim e em como me poderia ficar aquele vestido justo e transparente. Até porque, se pensasse em mim, nunca iria pegar numa peça de roupa parecida.
Pensei em ti.
Pensei em ti a olhar para o vestido.
Pensei em ti a olhar para mim dentro daquele vestido.
E imaginei os teus olhos. Vi o brilho desse teu olho verde-azeitona a percorrer cada ângulo do meu corpo naquela segunda pele vistosa. Foi nesse preciso momento, o momento em que imaginei o teu olhar em mim, que soube que tinha de levar aquele vestido comigo.
E foi com um sorriso atrevido - não consegui controlá-lo na altura - que me dirigi à caixa, segura de que devia trazer para casa aquele que será mais um cúmplice do teu desejo.


Comprei um vestido que só faz sentido em mim através desses teus olhos.
Aquele vestido azul que é teu muito mais do que meu.

[3 de Dezembro de 2015]

terça-feira, 18 de setembro de 2018

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Apontá-los aqui para não deixar que, um dia, me escapem da memória #2


Há três dias. Precisamente. Ao final da tarde.
Tu, de mala feita. Pronto para te fazeres à estrada. Depois de me teres feito a cama, como quase sempre fazes, antes de te ires embora.
O beijo de despedida. Intenso. Demorado. Para perdurar aos quatro dias de distância.
Ela, a meter-se no meio. Como sempre faz. 
Desces ainda mais das tuas alturas para a abraçar.
Encostados, os dois, à porta de saída. No corredor que é a minha cara. 
Tu de cócoras. Ela em pé, à tua altura. 
A tua mão direita a abraçá-la. 
O beijinho inesperado. 
O teu rosto iluminado.
Esses teus olhos, gigantes de tanto brilho, a virarem-se automaticamente para mim.
Para eu comprovar e, assim, ficares com a certeza do sucedido. 
Para poderes saborear à vontade aquele momento de ternura.
Esse momento que ficará. 
Entre nós os três.
Mesmo depois de saíres porta fora.
Mesmo depois de estares longe,
de nós as duas.
Para sempre.


[três de Junho de dois mil e dezasseis]

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Eles pedem, eu obedeço #14 - Anouska

Quando viu aquele post, a Anouska pediu as fotos das sobremesas. Já lá vai algum tempo, é certo. Mas, como toda a gente sabe, mais vale tarde do que nunca. Por isso mesmo, aqui ficam algumas das delícias que devorei quando estive na Tailândia. [saudades...]










nota: e, sim, as fotos são minhas. não tive foi pachorra para colocar o Mam'Zelle em todas elas.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

TAtuaDO

Diz-me que não quer.
Nem mais uma.
Mais nenhuma.
E eu gosto de o ouvir.

A verdade é que,
se a negação é pela dor,
dou por mim a pressupor
que esse não querer
é só mais um sinal,
afinal,
do tanto que me quer.

A mim,
unicamente,
na sua pele.