Há mais ou menos umas duas semanitas (ou provavelmente até mais, o tempo nunca pára) que passava por aqui sem aquela vontade que costumava ter. Aquela vontade que se tornara, a pouco e pouco, uma verdadeira necessidade. Há vários dias que publicava posts quase que por uma obrigação qualquer. Uma obrigação que, se pensarmos um tico, não existe de facto. E eu que não sou nada destas coisas de fazer porque tem de ser. Porque é suposto. Porque é o que os outros estão à espera de nós.
Percebi então que não fazia sentido passar por aqui só por já ser um hábito de há uns dez meses e meio para cá. Percebi que, se não me apetecia, não fazia sentido algum. E deixei de vir.
Hoje, apeteceu-me. Só porque sim. Só porque me apetece escrever. E também porque me disseram que não vale desaparecer.
Segunda-feira, passei duas horas no Centro de Saúde. O médico espanhol que me atendeu - e que tinha um tique estranho e bastante incomodativo, quase aflitivo, para quem tem de olhar para ele - muito coçou o queixo com a mão direita. Nunca tinha visto uma situação daquelas (ou seja uma situação como a minha, claro está), desabafou. Achou melhor mandar-me para as urgências dos HUC. E lá escreveu uma carta com uma carrada de pontos de interrogação, com todas as maleitas, que, segundo ele, eu poderia ter, enumeradas. Passei lá mais de seis horas, nos HUC. Esperei mais de cinco horas e meia, numa sala cheia de gente com má cara, até ouvir finalmente o meu nome. O médico, jovem com um sorriso contagiante, era canhoto. Foram as primeiras características que apanhei, mal me sentei à sua frente. O sorriso e a mão esquerda a escrever. E foram essas mesmas características que me deram um pouco de alento para repetir, pela quarta vez naquele dia, a razão por estar naquela sala de espera, uma pulseira verde no pulso, há tantas horas.
Quando cheguei a casa e me deitei, já eram duas da manhã. E não dormi nada. Também não dormi na noite seguinte. A noite passada já foi melhorzita. Vamos lá ver se é desta que reponho o sono em dia.
nota 1: sempre achei aquela expressão do "as coisas só acontecem quando menos se espera" uma grande treta. Daqueles clichés tremendamente absurdos. E não é que tive de engolir em seco e dar a mão à palmatória?
nota 2: agradeço às quatro alminhas que manifestaram a sua preocupação pela minha ausência por aqui. Principalmente à equipa privada de salvamento, constituída por uma única pessoa, que já estava a postos para me dar assistência. A sério, aos quatro, muito obrigada mesmo.
nota 3: prometo que vou voltar aos blogues que costumava seguir diariamente. Hoje, talvez ainda não. Mas vou voltar. Preparem aí um docinho qualquer para receber, como deve de ser, a Mam'Zelle. Pode ser?