Pois que pensaram muito mal. Não me esqueci. Tanto que vou falar dela mais uma vez. Neste post. Agora mesmo. Ah pois.
É verdade, prometi,
há uns tempitos atrás, que ainda não estava tudo dito acerca da Sra. Dra. Anestesista que tratou da epidural no dia em que a Bolachita nasceu. Adiantei até que o assunto abordado teria a ver com as primeiras palavras que comigo trocou. E, como sou gaja de uma só palavra, aqui vai.
Estava eu deitadita na maca, há espera que a hora de almoço terminasse e que se lembrassem - finalmente - de mim para irmos ao que realmente interessava: pôr a Bolachita cá fora. Estava eu sossegadita e bastante (demasiado?) zen, tendo em conta as circunstâncias, mas mortinha por ter nos braços quem, nos últimos meses, tinha feito um verdadeiro reboliço dentro de mim, literalmente e não só.
De repente, entra a Sra. Dra. Anestesista. Olho para ela, pronta a responder à sua suposta saudação com outra igual ou parecida. Mas rapidamente percebi que a mal-educada não estava para simpatiquices.
- Ai, que carinha tão jovem!, lançou ela com um tom repreendedor, parecido com o da minha mãe quando, em miúda, fazia algo que não devia*.
- Mas olhe que não sou assim tão jovem, respondi, já antevendo a pergunta seguinte e o ar de surpresa que iria provocar com a minha resposta, dentro de poucos segundos.
- Ai não? Então quantos anos tem, diga-me lá, continuou a Sra. Dra. Anestesista, num suspiro de aborrecimento que mais parecia querer dizer: olhem-me esta meia-leca a achar que já é crescida. mais uma a lixar-me a paciência.
Esperei uns segundinhos. Gosto daquele momento que antecede a estupefacção. [Continuo sem perceber se as pessoas que não me dão ('não me davam', melhor dizendo, que elas não matam mas moem e o último ano não tem sido nada fácil) a minha idade têm problemas de visão ou de discernimento*. Mas a verdade é que, seja qual for a razão, dá-me um certo gozo. Não o posso negar.]
- Tenho trinta e cinco, acabo por revelar.
- Não?!, reage a Sra. Dra. como se eu lhe tivesse confessado o mais bárbaro crime de toda a humanidade.
Agora. Parece que até consigo ver a malta toda, frente ao seu computador ou outra modernice qualquer que anda por aí, a questionar com toda a legitimidade, mas por que raio se lembrou ela agora de contar este episódio irrelevante da sua vidinha insignificante?
Muito simples. 'Celebro' hoje aquele dia do ano que, para qualquer pessoa minimamente consciente da realidade das coisas, deixa de ter tanta piada passada a barreira dos trinta. Sendo assim, e porque passei essa barreira faz anos, até que sabe bem relembrar um episódio onde essa realidade das coisas foi posta em causa, mesmo que por breves instantes, numa conversa de chacha entre uma grávida quase a parir e a anestesista que, por falta de sorte, lhe calhou na rifa.
Pronto. É isso.
* o que acontecia muito de longe a longe, diga-se. raríssimas vezes, mesmo.
* pensando melhor - e relembrando o tempo que demorou a encontrar o sítio certo para espetar a porra da agulha - só pode ser cegueta, o raio da mulher.