quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Aquele aperto no coração ou noutro sítio qualquer que não sei qual é mas que dói um tico


Na passada sexta-feira, pela primeira vez em quase dois meses, esqueci-me de dar de mamar à bolachita à hora que tinha previsto. Foram menos de trinta minutos de atraso. Nada de alarmante. Até porque está a aumentar bem de peso e a enfermeira diz que não é preciso marcar hora. Diz que se ela estiver a dormir é deixá-la estar. E ela estava a dormir. Profundamente.
O problema não foi ela ter mamado trinta minutos depois da hora que eu tinha previsto. Não, o problema não foi esse. O problema foi eu ter-me esquecido dela por alguns minutos. É que só tenho pensado nela, nos últimos dois meses. Na alimentação dela, no banho dela, na hidratação da pele dela, no mudar de fraldas dela. No bem-estar dela. Só tenho pensado nela, nos últimos dois meses. Nela e em mais ninguém*. Muito menos em mim. E, na passada sexta-feira, quando levantei os olhos para olhar para o relógio e vi que já tinha passado a hora que tinha previsto para lhe dar de mamar, fiquei toda atrapalhada. Fiquei com aquele aperto. Diz que é no coração. Isso não sei. Mas doeu. Doeu um tico. A última vez que me tinha sentido assim - ou talvez ainda um tico pior - foi poucos dias antes de ela nascer. Caiu-me água a ferver em cima da barriga. Aquela merd* doeu. Mas não foi a dor física que mais me custou. Longe disso. Fiquei em pânico. Fiquei com um medo incontrolável só de pensar que poderia ter afectado a bolachita. Coloquei água fria. Fui comprar o creme adequado para queimaduras. As pessoas habilitadas para tal confirmaram que não tinha afectado em nada a pequenita. Mas eu andei muito preocupada nos dias a seguir. Fiquei em baixo. Bastante. Muito. Só me apetecia chorar. Tentava controlar-me porque me diziam que esse meu mau estar é que, esse sim, poderia afectar a bolachita. Mas aquele sentimento era incontrolável. Na altura, também não foi a queimadura em si que me doeu. Foi o ter deixado que tal acontecesse. Foi sentir que tinha errado. Foi pensar que poderia acontecer o mesmo já tendo a bolachita nos braços. Foi perceber que este pequeno ser que é, neste momento e para sempre, o mais importante da minha vida precisa de toda a minha atenção. Precisa incondicionalmente de mim. Foi sentir que poderia não estar à altura de tamanha responsabilidade.
Na passada sexta-feira, dois meses depois, senti o mesmo. E doeu. Num sítio que não sei bem qual é, mas que dói um tico.




* para ser exacta, também tenho pensado na minha mãe. Desde há oito meses para cá que lhe ligo todos os dias. Era às oito horas da manhã, enquanto esteve no hospital. É às nove da noite, agora que voltou para casa. Todos os dias, religiosamente, não pode falhar.

10 comentários:

  1. Olá olá, pois tive que deixar um comentário para saberes que isso dos esquecimentos é uma coisa normal após o parto, não te stresses. Ainda há muito hormona saltitante por aí. Mta calma, está tudo bem.

    Bjos

    Maggie

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    1. E fizeste muito bem em deixá-lo, o comentário :) Muito obrigada pelas palavras. Eu até sou uma pessoa bastante calma e racional. Sei perfeitamente que não foi nada de grave. Mas o apertozito, esse, não deu para controlar...

      Bem-vinda, Maggie!
      Beijos

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  2. Não há motivo nenhum para stresses moustachinha; não falhaste em nada. Sabias que ela estava bem e por isso estavas descontraída.
    Olha lá bem para os olhitos dela a sorrir para ti e vê como ela confia em ti e em que sabes e farás tudo o que seja melhor para ela.
    Confia tu também em ti miúda, ok?
    Beeeeeeeeeijos

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    1. Muito obrigada, Sexinho linda :D
      É pá, isto é tudo muito novo para mim. Mas vou ter de aprender a confiar...
      Beijos bué da gordos!!

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  3. Oh mulher, se te vai doer todos os esquecimentos, é melhor que arranjes um bom analgésico... É perfeitamente normal... não és mais nem menos que ninguém! E a miuda está optima. E LINDA!
    Relaxa, sim?

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    1. Mas como assim, não sou mais nem menos que ninguém?!! Eu sou mais que muita gente. Sou a Mam'Zelle, ué! ;p
      Agora mais a sério, obrigada, Blogger. Mas eu sou bastante relaxada. Nem sou daquelas mães super preocupadas com a cria. Por enquanto, pelo menos. Mas há aqueles momentos em que a coisa aperta, não dá para controlar :)

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  4. Esse aperto no coração é aquilo a que chamam "ser mãe" e persegue-nos a vida toda ao que parece ;)

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    1. Lá está, parece-me que disseste tudo nesta tua simples frase, Joana.
      Obrigada ;)

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  5. a partir do momento em que temos filhos esse sentimento que dói um tico vai acontecer muitas vezes porque nós só queremos que esteja sempre tudo bem com eles e às vezes nem sempre está.
    mas é mesmo assim, o sentimento é sinal de que os amamos profundamente.

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    1. Sem dúvida, é isso mesmo. Mas eu não estou nada habituada a esses sentimentos, daí estranhar e até ficar com medo por ser algo tão forte e incontrolável...

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