quinta-feira, 29 de maio de 2014

Quem não sai aos seus...


... pois que degenera.



Diz que, a meio deste mês, foi dia da família. Já sabem o quanto ligo a essa treta dos dias de tudo e mais alguma coisa. Mas fica bem relembrar a data para introduzir, melhor dizendo, para dar um propósito ao post que se segue.
 
Não saio aos meus. Cada dia que passa fico mais convencida disso.
 
Em pequena, ficava triste com certas conversas e brincadeiras. Tudo porque a minha irmã nasceu na cozinha da minha Mamie Z, lá na terriola. E, sendo assim, não há como negar que é filha dos meus pais. Mas comigo, nascida numa maternidade lá de França, a conversa é outra. Até porque, na altura, os recém-nascidos não dormiam junto às suas mães nos primeiros dias de vida. Eram levados para uma sala qualquer. Como tiveram o cuidado de me relembrar vezes sem conta.
Conclusão, era habitual brincarem comigo, dizendo que quanto à minha irmã não havia dúvidas, mas no que a mim dizia respeito, podia muito bem ter sido trocada à nascença e não pertencer à família que sempre conhecera como sendo a minha. Diziam isso quando fazia algo diferente do habitual lá em casa, quando dizia algo que não entrava nos padrões, quando gostava de algo diferente, quando reagia à minha maneira e não como seria suposto reagir. Ou diziam-no, simplesmente, para me ver irritada. E, efectivamente, isso irritava-me. Havia alturas em que me magoava, em que me deixava triste. Eu queria pertencer àquela família, porque era minha, porque não conhecia mais nenhuma, porque assim tinha de ser.
 
Hoje em dia, não me faria qualquer diferença. Não me identifico nada com os (supostos) meus ainda vivos. Não me revejo nos feitios, manias, vontades. Não tenho os mesmos objectivos, as mesmas necessidades. Não partilho da mesma forma de ver o mundo e a vida. Não tenho os mesmos gostos, ideias e ideais.
 
Não sou como eles. Nem quero ser.
 
Sou diferente em tudo. Chega a ser impressionante.
Sou diferente porque não ligo ao que os outros acham de mim. Sou diferente porque não faço as coisas a pensar no que os outros vão dizer. Sou diferente porque dizerem mal de mim não me tira o sono. Alias, é para o lado que durmo melhor (não fosse a Bolachita lembrar-se de berrar, nas últimas noites, de duas em duas horas). Sou diferente porque ajo em conformidade com os meus princípios e não para inglês ver. Sou diferente porque o ser bem vista não me aquece nem me arrefece. Sou diferente porque não saio de casa para ver e ser vista, falar e ser falada. Sou diferente porque não me importo com o que os outros têm ou deixam de ter; fazem ou deixam de fazer. Sou diferente porque vivo em função de mim (e agora da Bolachita) e não dos outros. Sou diferente porque estou pouco me lixando para as aparências.  Sou diferente porque prefiro ir descobrir mundo de chinelo no pé a ir mostrar a mala de marca e os sapatos novos (de marca também, s'il vous plaît) ao café da esquina. Sou diferente porque passei a vida a ouvir "tem juízo" e o que me importa a mim é ter valores. Sou diferente porque os padrões me aborrecem e os carros de alta cilindrada também.

Eu, Mam'Zelle degenerada me confesso.
Não saio aos meus porque sou diferente. Sou diferente porque não sou, nem quero ser, como eles.

2 comentários:

  1. És cá das minhas Mam'Zelle! Sempre em frente cabeça erguida e o resto que sa fucka!

    Toma lá uma beijoca (à défaut d'une bonne brioche au beurre ou d'un bon pain au chocolat)

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    1. Não diria melhor. Tu falas bem, pá! :p

      (mince, alors. J'aurais préféré la brioche au beurre au lieu du bisou, moi...)

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