quarta-feira, 28 de março de 2018

Benquerenças e esca-dotes

Nunca gostei muito de pesquisar. Não dava para investigadora. Detective. E essas tretas.
Na faculdade, enquanto muitos pesquisavam religiosamente a bibliografia que os professores forneciam - em forma de listas intermináveis, anotadas no quadro, para os mais antigos; entregues em folha A4, para os mais modernos - no início de cada aula, eu preferia registar, meticulosamente, tudo o que saía daquelas bocas e ficar-me por aí. Os meus apontamentos sempre me bastaram para estudar antes das frequências. A minha preguiça nunca me falhou. As boas notas, nas pautas de finais de período, também não.

Nos últimos meses, tive de fazer várias pesquisas.
Ele foi tatuadores,
ele foi sofás,
ele foi poltronas,
ele foi mesas,
ele foi estores,
ele foi papéis de parede,
ele foi cadeiras de escritório.
Ele foi mais umas quantas coisas, sei eu lá agora quais, que uma pessoa não se pode lembrar de tudo. 


O que eu queria era pesquisar afectos.
Ou ser sobredotada em benquerenças.
Saber quais demonstrações de uns são mais adequadas para manter as outras, em cada imprevisto da vida.
Saber que gesto usar para ser entendida, nos vários desentendimentos que assombram os dias.
Saber que entoação colocar, no momento certo e riscar as desavenças que devoram as horas.
Queria saber o que fazer para não perder minutos preciosos com silêncios desnecessários.
Queria pesquisar comportamentos.
Saber o que dizer quando viras muro intransponível, sem ponta de frincha por onde eu possa entrar.
Cá para mim,
ainda vou ter de pesquisar escadotes.

terça-feira, 27 de março de 2018

segunda-feira, 26 de março de 2018

Uma hora, um minuto e trinta e seis segundos

Lisbeth acaba de perceber que está apaixonada por Mikael. Prestes a confessar-lhe os seus sentimentos, é, inesperadamente, interrompida.
Pelo multifaceto e talentoso Tom Ford; pela arte representativa do último James Bond; pela obra de Caravaggio; pela compilação do Duarte e Companhia que o Duarte recebeu; pelo linguajar nortenho e os pis que se perdem pelo caminho; pelo controverso litro de água de Guillermo del Toro; pela intransigência de um Bielorrusso; pela libido das ruivas naturais; pelas meias de liga e as miúdas roliças; pela correlação entre tamanhos de mama e níveis de testosterona; pela dificuldade dos homens em assumir que o tamanho importa; pelos balões vazios dos embrulhos da Chico; pelo perigo de uma toalha mal posicionada; pelos encantos da Tailândia, concentrados no corte de um fato de banho; pelo atarantar de um side boob;
pelo grau de fantasia num encantamento que se diz real.

Parece que os astros acabaram por se alinhar, naquele serão de sexta-feira.
A favor da conversa,
em detrimento da leitura.
A favor da partilha,
da gargalhada pura.

sexta-feira, 23 de março de 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Prémonition ou É mais ou menos isto #10

Há mais de dois meses.
Viciada.
Visceralmente.
Na música.
No videoclipe.
Nas palavras.
Na voz.



(...) je suis attirée par le vice.
On s'assemble ensemble,
Mais peux-tu m'attendre?

 
Et quand le jour se lève, je reviens vers toi
Ce que je reconnais, ce n’est que vide en moi.
D’abus, je vis d’erreurs, tes mots comme une loi,
Comme une prémonition, on ne changera pas.

 
Nos cris font tomber
Les murs d'une vie qu'on se plaît à pousser
Les limites des corps
Ceux qui partagent nos ébats, no pensées.
(...)
[se formos um pouco imaginativos, percebemos que ela está de laranja, ele de verde. (as meias laranjas dele são um simples erro de casting.)]

terça-feira, 20 de março de 2018

segunda-feira, 19 de março de 2018

Mam'Zelle ensina #1 - Os mosquitos

são como as promessas dos homens.
É certo que os/as ouvimos.
Mas nunca os/as chegamos a ver.




nota: e não me venham para aqui dizer que isto é preconceito. e bla bla bla. o rastilho que faltava para uma guerra de géneros. e bla bla bla. e que também se pode dizer o mesmo das mulheres. e bla bla bla. e que isto é coisa de gaja ressabiada. e bla bla bla. e que com opiniões destas nunca conseguiremos a igualdade. e bla bla bla. e que isto é treta de feminista chata. e bla bla bla. e que eu devia era ficar caladinha. e bla bla bla.
Malta. Isto é uma piada. Única e simplesmente isso. Uma boa piada. Ponto.
Não sejam tão macambúzios. Para isso, já nos basta o tempo. 
E as feministas deste país. (ups...)

quarta-feira, 14 de março de 2018

E é isto #30 ou A Arte de Bem Relativizar


No fim-de-semana passado, passei-me.
Eu, que tinha tudo devidamente desenhado; desandei.
Eu, que me considerava calma; cambaleei.
Eu, que me sentia segura; serpenteei.
Eu, certa da minha escolha; escorreguei.

Tinha passado dias a fio, a estudar o código braille
Dediquei horas preciosas a dispor, com arte e engenho, no word, pontos e mais pontos, em carreirinhos. 
Não me valeu de nada.
A minha sorte é não ter esquecido por completo o que me ensinaram nas aulas de língua gestual. 
E eu sempre tive bastante jeito com as mãos.

Nunca tinha posto em causa a minha fisionomia. Sempre reivindiquei o ser franzina como um trunfo. [je suis l'as de pique, tiens-toi à carreau.] 
Mas, no fim-de-semana, desejei, por instantes, ter um antebraço menos delicado.
Não me valeu de nada.
A minha sorte é ter ombros. Este tipo de ombro peculiar. 
E tu sempre tiveste imenso jeito para o elogiar.

terça-feira, 13 de março de 2018

sexta-feira, 9 de março de 2018

quinta-feira, 8 de março de 2018

Não sou eu. Quem diz é... #4



Joseph Joubert



Il est des esprits semblables à ces miroirs convexes ou concaves 
qui représentent les objets tels qu'ils les reçoivent, 
mais qui ne les reçoivent jamais tels qu'ils sont.





Parece-me claro que as pessoas entram nessa categoria de objectos, mencionada pelo Sr. Joubert.
Quanto aos espíritos, pois que me parece que são quase todos - se não todos - a assemelharem-se aos ditos espelhos. 
E a graça do (auto)conhecimento humano, quanto a mim, reside nisso mesmo. Nessa fascinante e instigante discrepância entre o que se vê e o que é visto.

terça-feira, 6 de março de 2018

(Tal e qual) um par(to) perfeito

Há coincidências que mais parecem o destino a tentar abrir-nos os olhos.
Há coincidências que não enganam e que, inevitavelmente, nos fazem sorrir quando damos por elas. (e eu, distraída inveterada, nem sempre as alcanço à primeira.)
Há coincidências deliciosas que me fazem acreditar que não sou um caso perdido e que aquela analogia da minha avó, sobre utensílios de cozinha, é capaz de estar certa. Tão certa quanto tudo aquilo que ela dizia, a minha avó.

Passaram nove meses certinhos. Com todas as etapas que um parto perfeito deve ter.
A surpresa. O encanto.
A negação, pautada pelo medo. Um receio bobo de se vir a perder aquilo que se está a ganhar.
As descobertas. As adaptações. As dúvidas. A aprendizagem.
O conhecimento. As alegrias. Os aconchegos.
E, paulatinamente, a certeza de que o que nos está a acontecer é melhor do que aquilo que tínhamos antes, por melhor que fosse. 

O processo leva nove meses, para um parto perfeito. 
Demorou nove meses para nós também.
Tu e eu. Perfeitos, no encaixe sísmico das nossas imperfeições.


(vinte e três de Outubro de dois mil e quinze)
[

sexta-feira, 2 de março de 2018

Como que para sacudir as más vibrações


... e, essencialmente, rir de mim própria.
[Até porque não há ninguém que saiba rir melhor do que eu. Tirem já daí essa ideia.]




Aqui fica uma bela ilustração para este post aqui.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Em humilde resposta à Dona Antonine*


Seules les morsures 
- aussi équivoques et dangereusement excitantes soient-elles - 
te raccrochent à la vie.




* que disse um dia: La mort est la plus sûre compagne de toute de l'homme, la seule sur qui tu peux compter en dernière instance pour t'arracher aux dangers de la vie. [quanto a mim, melodramaticamente assustadora, a senhora]