quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sim, sou desse tipo de pessoas, mesmo #7


que tem um medo danado de estragar as coisas.

Desde muito pequena. Desde sempre.
Ofereciam-me um qualquer brinquedo e eu demorava dias e dias antes de começar a brincar, de facto, com ele. Passava esses dias e dias, primeiro a olhar para ele. Depois, a abrir a caixa com todo o cuidado. Finalmente, a manuseá-lo com alguma apreensão. Sempre com aquele receio de o estragar. Sempre com aquele medo de fazer com que ele deixasse de ser tão bonito, sem defeitos. Tão 'perfeito'. Por vezes, passavam-se meses, antes de eu me aventurar na descoberta. Muitas vezes, o brinquedo já tinha deixado de ter qualquer tipo de interesse para uma criança da minha idade quando, efectivamente, perdia o receio de brincar com ele. Acabava, assim, por não o aproveitar no momento certo.
Com o passar dos anos, deixaram de me dar brinquedos. Passou a ser com outra prenda qualquer. Não é necessário que seja algo muito valioso. É que se fosse, até se poderia entender esta minha mania. Mas não. Basta ser algo que me tenha sido oferecido. Basta que seja algo que passe a ser meu. Por exemplo, sempre demorei dias antes de tirar aquela película transparente do vidro dos relógios ou do ecrã dos telemóveis. Sim, é verdade, também me oferecem relógios e telemóveis. Aliás, para ser mais exacta, nunca comprei nenhum. Nem de um, nem de outro.

Essa dificuldade em aproveitar em pleno o que me é oferecido continua até hoje. Por acaso, tenho um exemplo bem recente. No dia dos meus anos, recebi uma máquina fotográfica toda XPTO. Pelo menos, para mim, assim o é. Já que a minha outra máquina é velhinha velhinha e é do mais básico que possa haver (também ela oferecida). Pois bem, recebi a máquina há mais de três semanas e ainda nem sequer retirei a tampa que tapa a objectiva. Quando a recebi, abri a caixa, com todo o cuidado do mundo. E peguei nela, com algum receio, enquanto agradecia a oferta. Mas, segundos depois, voltei a colocá-la, delicadamente, na sua caixa. Li o manual, assim na diagonal. Até porque não percebo patavina daquilo que lá vem escrito. Mas nada de mexer na máquina. Nada. 
A pessoa, que me ofereceu a dita máquina, está farta de perguntar se já peguei nela, se já me entendo com ela, se já tirei muitas fotos fixes com ela. E, eu, limito-me a responder que não. Não, a todas as perguntas. A pessoa acha estranho. E eu dou a desculpa de que veio sem cartão de memória. Mas pode-se usar/manusear a máquina, mesmo sem cartão, para nos podermos familiarizar com ela, dizem as pessoas. Está bem, mas prefiro ter tudo em ordem antes de me aventurar, respondo eu. 
Andei a adiar a compra do raio do cartão. Anteontem, levaram-me até à Worten, para eu o poder comprar. Está aqui. Mesmo à minha beira, o cartão de memória, ainda na sua embalagem. Intacta. Ao lado, está a caixa com a máquina fotográfica. Intacta.

Hoje de manhã, olhando para o cartão de memória na sua embalagem intacta e para a máquina fotográfica na sua caixa também ela intacta que estão aqui na mesa, à beira do computador, pus-me a pensar. Lembrei-me desta minha mania parva. E pus-me a pensar nas pessoas. Nas pessoas que passaram pela minha vida. Naquelas que já não fazem parte dela. Naquelas que, de uma maneira ou de outra, ainda nela permanecem. Naquelas que chegaram há pouco e que, parece-me, estão prestes a dar de frosques. Pensei nessas pessoas todas. Numas mais. Noutras menos. Pensei mais nas últimas. Numa das últimas em particular, sem dúvida. Percebi que, talvez, sem dar por ela, sempre tive essa mania parva não só com objectos que me eram oferecidos, mas também com pessoas que a vida me vai oferecendo. 
Percebi que, talvez, nunca deixe de ter essa mania com objectos. Agora, de uma coisa tenho eu a certeza. Não a quero ter mais com certas pessoas que a vida me 'ofereceu'. Com as últimas pessoas. Com uma dessas pessoas em particular. sim, és tu. parvo-convencido-susceptível-e-casmurro(nos dois sentidos da palavra)-como-o-raio.

14 comentários:

  1. Entendo perfeitamente o último parágrafo do texto :)
    Mais valia não entender... beijos Mam'Zelle

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    1. E eu a pensar que a malta não entendia nada do que para aqui escrevo. ;)
      Beijo e bom fim-de-semana, Lírio.

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  2. Como eu te compreendo, no que respeita a pessoas...
    IF

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    1. Pois, que essa mania que eu tenho com os objectos, ninguém compreende.
      no problem... já estava à espera… ;)

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  3. Tu andas a associar pessoas a objectos?
    Eu prefiro objectos*

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    1. Não associo não senhora.
      Também gosto muito de objectos.
      De uns mais do que de outros. Tal e qual como com as pessoas. Olha, afinal, talvez associe um tico, sim.

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  4. Vamos rir à gargalhada
    Preparada
    então aqui vai: quando entrei para o primeiro ciclo oferofereceram-me uma bicicleta cor de rosa. Com cestos. Com elásticos às cores nos pneus. Fitinhas nos punhos. Um mimo que só visto.
    Acontece que ninguém a viu. Excepto eu e a malta lá de casa.
    Para não estragar nunca saiu à rua
    Ahahaha
    e mais. Limpava lhe o pó, como se não houvesse amanhã
    Ahahah
    brilhante mais brilhante não há.

    Mam'Zelle menos sim. A menina era pequenina :p

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    1. E a dita dormia no meu quarto.

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    2. Ahahahahahahahahahahahahah! O máximo! Ahahahah! A sério, essa de nunca teres saído à rua com uma bicicleta que, à partida, só faz mesmo sentido na rua é do melhor. Ahahahahah! E não é que, graças a ti, me sinto um tico menos sozinha no que às pancas estranhas diz respeito? :D

      Pronto, pronto. Menos. Já não me vou rir mais. mas olha que, pelo que contas, devia ser bem gira, a tua bicicleta. sua sortuda.;)

      (já agora, obrigada por esta gargalhada. podes passar uns tempos sem dizer nada, que eu deixo. mas promete que vais voltando para me deixar destes comentários de vez em quando. promete, vá.)

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  5. Só uma correcção. Coisa mínima. Quando abres uma caixa ela deixa de estar intacta. Digo isto porque,...podes ter olhado para a caixa do cartão de memória e ela estar intacta, aceito e tudo bem, mas a da máquina fotográfica...eiiii porque é que estás a carregar a caçadeira? Porque é que queres que segure numa maçã? E porque é que estás com tremeliques no olho?

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    1. moeda* abençoada que és, isso é que foi nascer com o rabinho virado para a lua. Ela é relógios, máquinetas de toda a espécie e feitio, tudo oferecido, txiiiii. (toda esta frase foi escrita sem qualquer resquício de inveja)

      (já a que ficou fora de parênteses não digo :p <- :D )

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    2. Te garanto que a caixa da máquina fotográfica que abri e voltei a fechar ficou intacta. Estou a olhar para ela, agorinha mesmo. Intacta.
      É que sou ágil de mãos e outras coisas mais.
      IN-VE-JO-SO! Tanto tanto que até dá pena. Fosca-se.

      (Ah! antes que me esqueça. mãos de lenhador tem a tua tia. sim, essa mesmo.)
      (e dispensava a maçã...)

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