quinta-feira, 5 de março de 2015

Nunca acreditei em bichos de sete cabeças


Continuo a não acreditar, mesmo depois de ter feito a minha primeira mamografia.

Acontecimentos de uma vida de quase quatro décadas (a sério?!) têm-me mostrado que sou dona de uma resistência à dor bastante razoável. Dor física, entenda-se.

A experiência, que fui adquirindo ao longo desses mesmos anos de vida, provou-me que a minha calma e a minha descontracção perante o desconhecido ajudam, em grande parte, a fortalecer essa resistência.

Não me queixei por aí além quando, aos três anos, levei, sem qualquer anestesia, três pontos no sobrolho que tinha aberto a brincar ao cavaleiro com a minha irmã a fazer de cavalo. (as malvadas disseram que, com o tempo, os pêlos voltavam a crescer. que não iria restar qualquer indício daquele pequeno incidente. mentirosas. trinta e quatro anos depois, continuo com a porra da falha na sobrancelha direita. o certo é que não me queixo.)

Também não me queixei durante as duas endoscopias digestivas sem anestesia que me fizeram poupar cento e cinquenta euros de cada vez. Nem quando fecharam a porta de um carro no meu polegar esquerdo (agora, neste caso, confesso que até vi estrelas. e, minutos depois, desmaiei de tanta dor. se não fosse o meu pai a segurar-me, estatelava-me no chão, em plena fila de check-in, no aeroporto de Orly. mas a verdade é que não saiu nem um 'ai' nem um 'ui' desta minha boca). Nem com as contracções antes do parto. Nem durante o parto em si.

Quando a minha melhor amiga fez a primeira mamografia, há uns dois anos, queixou-se horrores. Descreveu-me o procedimento como se de um verdadeiro filme de terror se tratasse. Segundo ela, vários meses depois, ainda sentia uma espécie de impressão - seja lá o que isso for - no peito. Explicou-me que a dificuldade se devia ao facto de ter mamas (ou seios, ou busto, ou pára-choques, ou aquilo que lhes quiserem chamar*) pequenas e, por isso, pouco material para ser literalmente esmagado na maldita máquina de tortura. Concluiu a conversa, aconselhando-me a nunca fazer tal exame, mesmo se o médico me sugerisse que o fizesse. Era recusar e pronto.

Ontem, fui fazer a minha primeira mamografia. O médico pediu. Eu fui fazer. Tão simples quanto isso. Antes de me fazer o exame, a médica avisou-me que era um pouco desconfortável, que podia magoar, que estava à vontade para me queixar se estivesse a ser demasiado doloroso. Não abri a boca. Simplesmente porque não foi nada do outro mundo. Diria até que foi totalmente pacífico. É óbvio que se sente qualquer coisa. Mas nada que não seja suportável durante os poucos minutos que demora o procedimento. E, se há moça com mamas (ou seios, ou busto, ou pára-choques, ou aquilo que lhes quiserem chamar) pequenas, essa moça sou eu.


A verdade é que existem algumas - muitas - pessoas para as quais tudo é um bicho de sete cabeças. Tudo lhes faz confusão. Tudo lhes mete impressão. Essencialmente se houver alguma probabilidade, por mais ínfima que seja, de algo vir a provocar dor. E, depois, sofrem por antecipação. E, depois, esse incessante magicar no assunto, faz com que, na hora h, doa mesmo. E não faz sentido algum. Não há necessidade disso. O melhor é metalizarmo-nos de que tem de ser feito. Que vai, efectivamente, ser feito. Percebermos que não somos os primeiros nem os últimos que passamos pela situação em causa. Entendermos que o que tem de ser (feito) tem muita força. E não pensarmos mais no assunto. 


Já disse que este post é única e exclusivamente dedicado à dor física?
Já?
Pronto.

* tipo limões, faróis ou caramulos.

6 comentários:

  1. eu gostava de ser assim em pelo menos duas das dores... física e emocional xD

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    1. Sim, sim, claro. Até porque há muitas outras dores para além dessas duas. ;P

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  2. Resistente a mam'zelle. Também acho me pouco queixosa mas as contrações são tramadas 😉

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    1. Afirmativo. :)
      Não as achei assim tão tramadas como se pinta. É óbvio que dói. Mas é respirar bem fundo e a coisa aguenta-se na boa.

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  3. Mamografia ahaha que engraçado.
    Quase quatro décadas hihi que animação.
    Experiência? ah? Calma? Tu? Descontracção? Oi?
    Para a próxima leio o resto. Aposto que é interessante a julgar pelo inicio.

    :)

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    1. Parvo.
      Estúpido.
      Otário.
      Burro.

      Um recto-verso para esse smile-zeco irritante.

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