quinta-feira, 16 de abril de 2015

O problema não é a idade, é o tempo (NVEJ)


De há uns anos para cá, tem-me aflorado bastas vezes ao pensamento, o seguinte desabafo: ai, se eu tivesse de novo vinte anos e soubesse o que sei hoje...
Acontece isto, vejo aquilo, dizem-me aqueloutro e volta-me esta mesma frase à cabecita.
E não tem absolutamente nada a ver com a idade em si. Não queria ter vinte anos para voltar a ter a tez mais sedosa e com mais elasticidade, os olhos menos enrugados e com menos olheiras, o corpito mais em forma; tudo mais no sítio. Basicamente, não queria voltar aos vinte para ser mais nova. O que eu queria mesmo era ter mais tempo pela frente. O que eu queria mesmo era ter a possibilidade de errar sem que isso afectasse decisivamente o resto da minha vida.

Aos vinte, podemos tudo. Sei bem disso agora, dezassete anos (ei! tantos!) passados. Não o sabia na altura. Era uma parva. Uma panhonhas. Uma verdadeira tontinha. Nunca arrisquei. Nunca tremi verdadeiramente frente ao desconhecido. Sempre fui por caminhos demasiado seguros e previsíveis para que qualquer tremelique acontecesse. Uma verdadeira palerma, diga-se.
Accionando o controlo remoto e fazendo um breve flashback, não há dúvidas de que fui uma chata e a minha juventude uma autêntica chatice. Se revelasse aqui a idade que tinha quando dei o primeiro beijo à séria, ninguém acreditaria. Eu mesma, pensando bem, tenho alguma dificuldade em acreditar. É para vocês verem.

Não me arrependo de nada que tenha feito. Nada mesmo. (aliás, já o tinha revelado aqui) Mas isso não é motivo de contentamento. Só quer dizer que fiz muito pouco. Quase nada, a bem da verdade, do que estava ao meu alcance. Nada daquilo que, constantemente, estava mesmo à minha frente e a estender-me as mãos.
Arrependo-me do muito que não fiz. Do tanto que ficou por fazer. Dizer. Mostrar. Sentir. Faltou-me sentir tanta coisa. Tanta coisa que estava lá. Naquela altura. À minha frente. Tanta coisa que, eu, burra que nem uma porta, teimei em afastar. Faltou-me viver, verdadeiramente.


Resumindo. O que eu queria mesmo não era ter vinte anos outra vez. O que eu queria mesmo era ter tempo. Esse tempo que se foi e não volta mais. Esse tempo que em tempos tive e já não tenho.
Ter o tempo que tinha aos vinte, mas já com estes meus trinta e sete vividos. Isso mesmo é que eu queria.




E, não, aquele final de tarde com direito a queque de limão polvilhado de sementes de papoila nada tem a ver com este assunto. Ou então, sou só eu a tentar convencer-me disso mesmo.
                                

24 comentários:

  1. Esta a preparar-me para fazer aqui um comentário mas depois de ler o teu "esclarecimento" acho que já não vale a pena. :-)
    Assim em vez de duas pessoas esclarecidas, passa a existir só uma, eu :-P

    Beijos

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    1. Bem, não percebi nadinha deste teu comentário (enfim, tenho uma vaga ideia, mas posso estar completamente errada). O meu “esclarecimento”? “duas pessoas esclarecidas” que afinal é só uma?
      Para uma pessoa que se diz directa e frontal estás a falhar, eusouassim. :p

      Com que então, “achas que não vale a pena”? Se tinhas um comentário para fazer, faz, ué! :)

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    2. Mas o eusouassim é um pouco enigmático no que escreve ;-) Sim, fico eu esclarecido sobre algo e tu não ficas ;-)
      Não faço para que não fiques a pensar que estou a proporcionar mais uma coincidência ;-)

      Beijos

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    3. Enigmático? Pois... pois...
      Pronto, se não queres falar não fales. Aqui a Mam’Zelle não obriga ninguém (até porque, mesmo se quisesse, não conseguiria ;p).

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    4. Ia falar nalgumas coincidências mas como não ias acreditar mantenho-me "calado" ;-)

      Beijos

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    5. Como já disse, tu é que sabes. A Mam’Zelle não obrigada ninguém a nada. ;)

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  2. Acho que tenho aproveitado mas assusta-me a velocidade a que o tempo passa. Acho que já não vou ter tempo/oportunidade de fazer tudo o que quero x)

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    1. Bem. Nem vou pedir para me relembrares a tua idade. Caso contrário, sou bem capaz de ser violenta e não me parece que seja sensato…
      ;p

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  3. até que me revejo, mas com menos 2 anos de idade e...
    Bom fim-de-semana!

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    1. Dois anos a menos? Xiiiiiiiii, ainda és uma criança, Urso. ;)
      Sortudo… ;p

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  4. Mam'zelle desculpa a pergunta será que te faz falta o tempo ou a "coragem"/ "ousadia" para te aventurares? Não leves a mal a minha pergunta :)
    Identifico-me em grande parte no teu texto, porque sendo filha única por vezes o peso das expectativas é demasiado peso que nos impede de nos atirar de cabeça. Sou por vezes demasiada "filha perfeita", mas quando estou apaixonada não olho para trás. Ou vai ou racha :)
    Bjts
    Ângela

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    1. Achas mesmo que alguma vez iria levar a mal uma pergunta tua? :)

      Naquela altura, aos 20 anos, faltava-me, sem dúvida e em primeiro lugar, coragem. Em segundo lugar, sempre fui muito independente, sempre gostei de ter o meu espaço, sempre gostei de viver sozinha e não me via, de todo, prender-me a alguém. Em terceiro lugar, também nunca fui uma pessoa de me apaixonar com facilidade.
      Nesta altura, aos 37, acredito que seja mesmo o tempo que me falte. O tempo e as responsabilidades que tenho hoje, e não tinha aos 20, são os principais entraves. Coragem isso, já me apercebi de que até tenho alguma. ;)

      Se, quando estás apaixonada, te atiras de cabeça, é meio caminho andado para, no mínimo, não te arrependeres do que não fazes… :)
      (Já agora, se não for indiscreto demais, quantos anos tens, Ângela?)
      Beijo!

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    2. Oh Mam'zelle a minha idade?? Tenho 35 (pronto, faço 36 em 16/05, por isso estás à vontade para me ofreceres uma prenda :) ... Temos praticamente a mesma idade :)
      As responsabilidades que vêm com a idade não ajudam e fazem com que uma pessoa pense duas vezes antes de se atirar de cabeça:) O tempo é um sacana!
      Ângela

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    3. Pois, pelos vistos só temos um anito e pouco de diferença. :) (olha-me outra, a tentar aproveitar-se aqui da Mam’Zelle… :p)

      Ora aí está! ;)

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    4. Em maio volto para a Lousãcity:) Arranjei lá emprego! Já me podes dar a prenda pessoalmente :)
      Pronto, em troca pago-te o café :)

      Ângela

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    5. A sério?! Que bom! Deves estar super contente. :)
      Eu não bebo café. Só galões, leites com chocolate, suminhos e coisas do género. :p
      Fazemos assim, tu pagas-me o galão e eu pago-te o bolo. Sim, estou-te a convidar para lanchar. Vê lá um dia de Maio ou Junho que te der jeito vir até Coimbra. Depois avisa. :D

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    6. Está combinado! :)
      Ângela

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  5. Os 40 poem ser os teus 20... com a maturidade que já tens agora, o que torna tudo muuuuuito mais interessante! ;)

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    1. Eheheh! Olha que talvez não seja mal pensado, Anouska. Vou pensar nesta tua visão da coisa. Até porque ainda tenho três anitos para tirar as minhas conclusões… ;)

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  6. É começar já! Não percas nem mais um dia. Tenta fazer tudo, tudo o que te apetece!

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    1. Hum. Pois. Querer até que queria começar já. E tenho noção de que o deveria fazer. Mas não é fácil.
      É que já não tenho vinte anos, lá está. ;)

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  7. Li ahahaha, duas vezes.

    É panhonhas, então não querias ter a tez mais sedosa e com mais elasticidade? Os olhos menos enrugados e com menos olheiras? O corpito mais em forma e tudo mais no sítio? Essa alcatifa deve ser de boa qualidade, ou então, as sementes de papoila é ópio do bom.

    Agarra na minha bela e sedosa mão e anda comigo escalar a montanha. Leva pensos para as feridas. As minhas. Xiu,

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    1. Estúpido.

      Não, não queria. E, que eu saiba, não é problema teu.

      hein? Tu é que andas a dar-lhe forte na alcatifa.
      Então é assim. Ouve bem o que te digo. Até podes ter as mãos mais belas e sedosas do mundo inteiro, que duvido. Mesmo assim, nem um monte subiria contigo. Quanto mais escalar uma ('a'?) montanha. Fosca-se.
      ‘tá doido, o gajo.

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