segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A minha (Super) Bolachita

Nestas quase* duas semanas de infantário, as manhãs da Bolachita têm passado por várias fases.

Nos dois primeiros dias, quando lhe perguntava se queria ir à escola, respondia com um sim convicto e convincente. Feliz, diria até. Depois, ao chegar à escola, ficava um tico intimidada. Olhava para mim a ir embora, não muito satisfeita. Mas lá ficava.

Depois, quando percebeu efectivamente que tinha de ficar na escola sem mim, um dia inteiro, começou a dizer que não queria ir à escola, sem ser necessário perguntar-lhe o que quer que fosse. Explicava-lhe que ia ser bom brincar com os meninos e as meninas. E ela acabava por dizer que ia, mas que eu tinha de ficar lá a brincar com ela. Chegávamos à escola e ela começava a chorar com vontade, agarrada às minhas pernas e a barafustar quando a funcionária a tentava levar para dentro. oram umas duas ou três vezes, se tanto.

Nos últimos dias, tem dito que sim, que quer ir à escola. Diz que quer ir com a mamã. E eu confirmo que vou até lá com ela. Quando começa a ver o portão da escola, agarra com mais força a minha mão à dela e não pára de dizer Vamos mamã. Vamos! Numa tentativa de me mostrar que aquele também é o meu caminho, que também eu tenho de entrar. Olho para ela e apercebo-me que está com as bochechas cheias de lágrimas. Num choro silencioso, pede-me para entrar. Baixo-me, até ficar com os meus olhos frente aos dela e explico-lhe que aquela escola é para meninos e meninas. Explico-lhe que não é para as mães, nem para os pais e que ela vai ter de se ir divertir sozinha, com as outras crianças. Acrescento que, mais tarde, a irei buscar para voltarmos para casa a cantar e a rir, de mãos dadas. Limpo-lhe as lágrimas, peço-lhe um beijo e volto a levantar-me.
Nesse preciso instante, a Bolachita larga a minha mão. Respira fundo. E, num tão firme e decidido, diz-me Adeus mamã, adeus, enquanto vai abanando a mãozita de um lado para o outro em sinal de despedida. Retribuo o adeus. E vejo a minha pequenina dirigir-se para o ginásio, onde todas as crianças se reúnem pela manhã.
Caminha, de forma estóica. Para mim, quase de forma heróica. Sem se virar uma única vez para trás. Sem tentar, uma última vez que seja, persuadir-me a ficar.

A Bolachita já percebeu que, por mais que lhe custe, não pode levar a mãe para a escola. A Bolachita está uma mulherzinha.
A Bolachita, por mais que me digam o contrário, tem muito de mim. Pode não ter os olhos, o nariz ou as unhas dos pés da mãe, mas tem a força.
A Bolachita tem a minha força dentro dela. E  sei que, por mais que me preocupe com o seu crescimento - antecipando todas aquelas contrariedades que terá de enfrentar, sempre que tentar atravessar os portões da vida - aquela força ninguém lhe tira. É força de mãe.





* já fez duas semanas. só que este texto foi escrito na passada quinta-feira. 
na sexta, a Bolachita já não me pediu para ficar com ela, nem chorou. a única preocupação dela é saber se a vou buscar. pergunta-me isso, vezes sem conta, ao longo do percurso casa-escola que fazemos sempre a pé. hoje, até sorriu quando, já dentro do ginásio, se apercebeu que estava a espreitá-la. Lá abanou a mãozita, mais uma vez, e sorriu, não só para me dizer adeus, mas para me mostrar que ficava bem. para eu poder voltar para casa descansada.
já disse que a Bolachita está uma mulherzinha? já? então está tudo dito. 

4 comentários:

  1. Como deve saber bem constatares tudo o que relatas! Que continue a ganhar coragem para enfrentar tudo sem deixar de ser a tua bolachita são os meus votos ;)

    beijinho Grande,
    FATifer

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    1. É um misto de sensações. Sabe bem, sim. Mas, ao mesmo tempo, assusta um tico e vai apertando aqui num sítio, dentro da gente. ;) Muito obrigada, FAT!

      Beijo gordo.

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  2. A tua Bolachita. Tua, mesmo tua, com tanto de ti :)

    (está uma mulherzinha sim. Uma menina crescida!)

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