quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Afinal, ainda se usa?


Eu cá pensava que com esta cena das novas tecnologias já não estaríamos sujeitos aquela outra cena antiga do meter conversa na rua com a velha e tão batida desculpa do "A tua cara é tão familiar. Conhecemo-nos de algum lugar, certo?" .
 
Desde aquela outra vez, que acabei por contar aqui, nunca mais se tinham metido assim, descaradamente, comigo. Um piropo para aqui, outro para ali, dito baixinho - e naquele tom de voz que, pelos vistos, se queria sensual mas que é somente ridículo - por um qualquer gajo que passa por nós na rua, isso, ainda vai acontecendo. Acho que lhes está no sangue, aos gajos. Parece-me que não conseguem evitar mandar uma boquinha de quando em vez. E não interessa se a moça é alta ou baixa, loira ou morena, mais isto ou mais aquilo. Basta ser gaja. Ponto. 
Agora, abordar uma pessoa na rua. Pedir licença para meter conversa à força toda, pensei francamente que já não se fazia.
Enganei-me.
 
No passado sábado, a meio da manhã, estava eu descansadinha da vida num determinado sítio (que não interessa para o caso) quando me aparece um sujeito à frente a dizer-me que nos conhecemos e a tentar confirmar se eu moro na localidade X. Respondi-lhe, educadamente - só porque fiquei um tico incrédula com aquela abordagem - que não, que devia estar a confundir-me. Mas o raio do homem insistia. Então, se não és (sim, sim, começou logo a tratar-me por 'tu', o descarado) de X, és de Y. E eu continuei a negar. Enumerou as terras todas à volta de Coimbra e arredores. E eu a querer despachá-lo e ele a insistir. Consegui enfiar, lá no meio do paleio do gajo, a informação de que tinha uma filha pequena. Mesmo assim, continuou a chatear-me. E eu sempre a caminhar em frente, a acelerar o passo, mas nada feito.
Percebendo que não chegaria a saber qual a minha freguesia, perguntou-me se não queria ir tomar um cafezito, ali, naquele preciso momento, para conversarmos. E o facto de eu recusar redondamente não o intimidou.
Passou à fase seguinte. A troca de contactos. Pareceu-lhe bem trocarmos os contactos para combinarmos qualquer coisa um dia destes, já que, naquele momento, eu estava com pressa. Mas quem é que disse ao marmanjo que eu estava com pressa? Eu não estava era para o aturar. Ponto. Declinei a coisa, um tico menos educadamente, confesso. E, não satisfeito, perguntou-me porquê. Ou seja, pelos vistos não lhe pareceu óbvio que, se não lhe queria dar o meu contacto, era porque não queria mais conversa com ele. É que não queria conversa naquele exacto momento, nem em  mais momento algum. Lá tive de lhe responder que não lhe dava a porra do meu contacto porque não o conhecia. E, antes de poder acrescentar que para além de não o conhecer também não estava interessada em vir a conhecê-lo nem nesta vida nem numa próxima encarnação, já estava a argumentar que, justamente, combinar um café seria a oportunidade ideal para nos podermos conhecer. Fosca-se. Há com cada cabeça dura. Livra.
Lá me consegui afastar, depois de ele me perguntar se costumava andar por ali e eu lhe responder com um ríspido 'sim'.
De repente, deixei de ter vontade de voltar a passar naquele lugar. Juro.
 
Fiquei sem perceber se aquilo era burrice, teimosia ou desespero. E, para ser muito sincera, prefiro nem saber.




E, já agora, em jeito de conclusão um tico sexista mas extremamente pertinente.
As gajas podem ter muitos defeitos, que os têm. Mas, que eu saiba, não fazem este tipo de figuras.
E sim, estou a meter todos os gajos num mesmo saco e todas as gajas juntinhas noutro saco porque há situações em que, efectivamente (salvo raras excepções), o género a que um ser humano pertence faz toda a diferença.

12 comentários:

  1. Tanta coisa para dizer que daria um post, repartido em 3 ou 4 outros posts.

    só não acho bem que ponhas todos os homens no mesmo saco, e as mulheres todas noutro, porque eu não entro no teu saco dos homens e já vi muita gaja a fazer figuras iguais ou piores.

    O rapaz engraçou contigo... eu, se te visse na rua, certamente também gostaria de trocar umas palavras contigo... seria era um pouco mais subtil na abordagem. :)

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    1. 3 ou 4...? Ei lá! Então exprime-te homem. Força nisso!

      Mas não tens razões para não achar bem. Até porque eu referi que era uma observação um tanto ou quanto sexista e até tive o cuidado de acrescentar que nem todos os homens são iguais, idem no que às mulheres diz respeito. Mas, neste assunto em particular, parece-me que os gajos são piores. Só isso :)

      Ai também gostarias de trocar umas palavras comigo caso me visses na rua? Ai serias um tico mais subtil na abordagem? Pagava para ver… Tu tens é muita lata. Essa é que é essa, Mustache! ;p

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  2. Ai credo! Vá lá que nunca me aconteceu isso! Bem mas o gajo queria meeesmo conhecer-te, chiça! Quem te manda seres gira? :P

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    1. Pois que tens tido sorte, ádescávir :)
      Agora que penso nisso, no meu ano de estágio, houve um particularmente rebuscado na sua abordagem. Mais de uma década depois, até que me faz sorrir. Pronto, admito, até na altura, quando virei costas, deu-me para sorrir.
      Gira nada, pá!

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    1. Comme disait l’autre, il faut de tout pour faire um monde… ;D

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  4. Ali o Mustache deu um tiro no próprio pé. tsk tsk.

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  5. "Parece-me que não conseguem evitar mandar uma boquinha de quando em vez", na realidade isto significa apenas que as mulheres não conseguem evitar passar de quando em vez por um homem com esse tipo de engate, até porque a sua, deles, característica fundamental é fazerem-se notar. Não obstante, os homens são ensinados desde crianças que o engate tem que partir de si (pelo menos no meu bairro de subúrbio era assim), muito psicopata há-de ter despontado com uma nega suave à saída da escola.

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    1. Reparo interessante, este teu. De facto, e como é óbvio, nem todos os homens mandam piropos. [Isto de tentar ter alguma graça, para aligeirar o que se escreve, leva-nos, automaticamente, a fazer certas generalizações.] No entanto, qualquer mulher vai sendo alvo de uns quantos ao longo da vida. Também acredito que, desde pequenos, se incentivam os putos a lançar piropos. Sempre foi visto como uma atitude de macho. E uma reacção contrária ao que eles possam estar à espera pode ser traumatizante. Parece-me, no entanto, que já não seja tanto assim, nos dias de hoje.

      Bem-vindo, Zé!

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  6. Depois de pensar muito cheguei à conclusão de que afinal esse tal de sitio que tu não quiseste revelar, faz toda a diferença para resolver esta equação. Senão vejamos e já em jeitaço de conclusão.
    O sitio nada mais era que um hospício e esse tal sujeito era um maluquinho que até estava a usar na altura um colete de forças?? (é este o nome?). Engate-my-ass, deixa de ser assim pah.
    Sherlock resolve, Sherlock está de partida.

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    1. Depois de pensares muito? Really? Tu lá consegues fazer isso?! Ahahahahahahahahahahahahah. Ahaha.
      Isso querias tu, que fosse num hospício. Ajudaria a manter essa tua esperança viva de um dia eu visitar aquele em que vives. Esquece.
      Sherlock? Pois. Coitadinho do maluquinho.

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