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terça-feira, 28 de abril de 2015

O Estranho Caso da Chave Saltitona

Capítulo XIX


O silêncio.
Um pesado e interminável silêncio. Aquele silêncio que se veste de medo, de apreensão assim como de uma contrastante, inesperada e inexplicável excitação, eis o que se sobrepôs a uma possível resposta do João naquele momento.

Tu não sabes o que te espera, pois não, João?, insistiu, quebrando de novo o silêncio, a sensualidade tornada voz.
Estou a ver que não queres falar. Assim sendo, vou deixar-te aqui fechado. Vou deixar-te a pensar na tua vida, na Maria e na chave. Volto dentro de uma hora. Espero ter-te mais colaborante quando voltar, concluiu.

João ouviu os saltos a rodopiar sobre si; a porta a fechar-se, novamente, num ranger metálico ensurdecedor; aqueles passos lentos, mas decididos, a desaparecerem progressivamente.


O silêncio de novo.
Um silêncio mais leve e bem-vindo. Aquele silêncio que se deseja e se procura quando o barulho que nos vai na cabeça se torna insuportável. E era esse o barulho que teimava em não abandonar a mente de João. Um burburinho cheio de tudo o que tinha vivido nos últimos tempos.
Respirou fundo, na esperança de enxotar todo o cansaço acumulado. Tentou mexer as mãos. E, apesar da dor que sentiu, esboçou um sorriso. As meias de liga da Maria eram bem mais suaves nos pulsos do que aquela fita-cola fluorescente, pensou. E esse sorriso instintivo trouxe com ele a memória não só da Maria, como da Elisinha também. Do gato que ficou vesgo e do burro do cigano que abalroou a ex-noiva. Do estendal da D. Leocádia e do Ford Cortina do ex-futuro-sogro. Voltou a viver, em poucos segundos, todo o alvoroço dos últimos dias.

De repente, como que por magia – daquela que só se dá em contos de fadas ou nos espectáculos do Luís de Matos o ruído desapareceu. A cabeça já não pesava. Sabia perfeitamente o que fazer. Ser o que sempre foi. Eis a chave para se libertar daquele imbróglio onde o tinham metido sem sua autorização. Ser ele próprio, o João conquistador que deixa - com o seu corpo escultural esculpido e moldado por um qualquer artista do classicismo grego (sim, sim, daí o reduzido tamanho do instrumento*. não se pode ter tudo.) - louca qualquer mulher. Era isso mesmo. Usar o seu irresistível charme. O seu corpo invejado pelos Deuses. Os seus olhos de um verde-azeitona inconfundível e hipnotizante. O seu parlapié arrebatador. E seduzir, até a deixar louca, a mulher por detrás daqueles saltos altos e daquela voz misteriosa.


E, assim, foi um João seguro de si e tremendamente excitado - já sem ponta de medo ou apreensão – que ouviu, pela terceira vez, o ranger metálico da porta que o separava da liberdade pela qual tanto ansiava. Os passos, naqueles tacões desafiadores, desta vez mais rápidos mas sempre decididos, calaram-se para deixar entrar em cena a voz provocantemente tentadora que já o tinha deixado intrigado uma hora antes.

- Parece-me que já te dei tempo suficiente para pensares. É desta que colaboras, João?


(continua... espero eu...
 e ainda bem que esperei, é que a história continua, de facto, AQUI.) 

(para ler o capítulo anterior, basta clicar AQUI.)



* atenção, não foi aqui a Mam'Zelle que atribuiu esta característica à personagem. Que fique bem claro. Até porque não sou de avaliar tamanhos. Nunca... Esta informação foi facultada aos leitores no início do capítulo IX. e reiterada no decorrer do capítulo XIII.