quarta-feira, 28 de março de 2018

Benquerenças e esca-dotes

Nunca gostei muito de pesquisar. Não dava para investigadora. Detective. E essas tretas.
Na faculdade, enquanto muitos pesquisavam religiosamente a bibliografia que os professores forneciam - em forma de listas intermináveis, anotadas no quadro, para os mais antigos; entregues em folha A4, para os mais modernos - no início de cada aula, eu preferia registar, meticulosamente, tudo o que saía daquelas bocas e ficar-me por aí. Os meus apontamentos sempre me bastaram para estudar antes das frequências. A minha preguiça nunca me falhou. As boas notas, nas pautas de finais de período, também não.

Nos últimos meses, tive de fazer várias pesquisas.
Ele foi tatuadores,
ele foi sofás,
ele foi poltronas,
ele foi mesas,
ele foi estores,
ele foi papéis de parede,
ele foi cadeiras de escritório.
Ele foi mais umas quantas coisas, sei eu lá agora quais, que uma pessoa não se pode lembrar de tudo. 


O que eu queria era pesquisar afectos.
Ou ser sobredotada em benquerenças.
Saber quais demonstrações de uns são mais adequadas para manter as outras, em cada imprevisto da vida.
Saber que gesto usar para ser entendida, nos vários desentendimentos que assombram os dias.
Saber que entoação colocar, no momento certo e riscar as desavenças que devoram as horas.
Queria saber o que fazer para não perder minutos preciosos com silêncios desnecessários.
Queria pesquisar comportamentos.
Saber o que dizer quando viras muro intransponível, sem ponta de frincha por onde eu possa entrar.
Cá para mim,
ainda vou ter de pesquisar escadotes.

8 comentários:

  1. Só te falta mesmo querer pesquisar o sentido da vida :P

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    1. E, assim, sem mais nem menos, retirava o ganha pão do senhor Gustavo Santos? Nããã. É que, parecendo que não, eu também tenho consciência.
      Assim como assim, prefiro ficar-me pelos escadotes. A minha preguiça agradece. Calhando, a minha paz de espírito também. ;)

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  2. Bem sentido. Bem pensado. Bem escrito. Gostei. E revi-me... ;)

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    1. Uau. Muito obrigada pelas palavras, sejas tu quem fores, anónima. :)

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    2. O pior é que é anónimo!
      Deves estar a pensar que sou maricas...
      Nada disso. Apenas um gajo sensível com dificuldades em pensar, falar e agir conforme os outros desejariam...maldito feitio... ;)

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    3. O pior? Não entendo porquê. Aliás, nem concordo.
      E por que raio haveria eu de pensar tal coisa? Se usei o feminino foi porque, regra geral, anónimos que não assinam são mulheres. Pelo menos, é o que tem acontecido com os anónimos que por aqui passam. Só por isso mesmo. :) Eu, por exemplo, não tenho problemas em assumir que sou uma pessoa bruta. Agora, o certo é que esta minha característica não tem absolutamente nada a ver com a minha orientação sexual.
      Isso de pensar, falar e agir conforme os outros desejariam é para as ovelhas. E não me parece que sejas uma. ;p



      Agradecia que, se te apetecer voltar a comentar por aqui, te identifiques de qualquer maneira. Só para te distinguir, entre o rebanho dos anónimos. Assinando, por exemplo, com um “gajo sensível” ou com outro nome qualquer. Pode ser? ;)

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    4. Combinado.
      E sim. Lá mais a cima sou eu também. O tal gajo sensível.
      Posso assinar GS?
      Beijinhos do GS ;)

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    5. ;)
      Logo vi.
      Podes sim. [E tanto dá para Gajo Sensível como para Gustavo Santos. O que não deixa de ter a sua graça. :p]

      Um beijo, GS. :)

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