quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O [teu] vestido azul


Nunca fui de comprar a minha roupa a pensar em alguém. Quando compro roupa é a pensar em mim. Compro porque preciso, porque acho que me fica bem, porque é confortável, porque é barato, porque é diferente, porque é engraçado, porque é a minha cara, porque me faz sentir bem e por aí fora. (puxa que quase fiquei sem fôlego.)

Ontem, pela primeira vez, comprei um vestido a pensar em ti. 
Entrei na loja, a ver se desencantava um top de alças cinzento, básico e baratinho, porque preciso. E dei de caras com um certo vestido. Estava ali - no meio de uma catrefada de trapos da moda - indecente de tão diferente das outras peças que o acompanhavam naquele expositor de cabides cheios de tecidos coloridos. 
Foi aquela renda toda que, primeiro, chamou a minha atenção. Peguei no cabide e virei o vestido para mim. Renda e transparência. Assim se pode resumir a parte de cima do modelito. Sensualidade pura até à cintura, foi isso que eu vi. E, por mais estranho que pareça, não pensei logo em mim e em como me poderia ficar aquele vestido justo e transparente. Até porque, se pensasse em mim, nunca iria pegar numa peça de roupa parecida.
Pensei em ti.
Pensei em ti a olhar para o vestido.
Pensei em ti a olhar para mim dentro daquele vestido.
E imaginei os teus olhos. Vi o brilho desse teu olho verde-azeitona a percorrer cada ângulo do meu corpo naquela segunda pele vistosa. Foi nesse preciso momento, o momento em que imaginei o teu olhar em mim, que soube que tinha de levar aquele vestido comigo.
E foi com um sorriso atrevido - não consegui controlá-lo na altura - que me dirigi à caixa, segura de que devia trazer para casa aquele que será mais um cúmplice do teu desejo.


Comprei um vestido que só faz sentido em mim através desses teus olhos.
Aquele vestido azul que é teu muito mais do que meu.

[3 de Dezembro de 2015]

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