terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Decalcomania



Sinto-te, sem sequer te ter visto um dia,
porque cada decalque da tua pele sedenta
- essa mesma que transpira em cada palavra escrita -
fica impresso no recalque das pulsões íntimas
que jamais ousarás revelar,
mas que, no recato, me autorizo imaginar.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Porque a minha filha pode não ser a mais inteligente, mas é, com certeza, a mais castiça



Bolachita, em modo polícia sinaleiro no descanso.




nota: este, estava há dois anos nos rascunhos. miss Bolachita cresceu um tico. perdeu os caracóis. e trocou a Callie pela Princesa Sofia.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Os meus não-assuntos #1


Por vezes, dou por mim a arrepender-me de ser preguiçosa no que toca a essas cenas de beleza.
Dou por mim a pensar que, se me maquilhasse, poderia ser mais apresentável.
Nada de carregado, nem ostensivo.
Só uma boa base, um pó bonne-mine, um rímel.
Coisinha pouca, portanto.

Logo a seguir, tiro essa ideia da cabeça.
É que nem sequer me chega a aquecer os neurónios,
de tão rápido que se evapora esse pensamento.
Isto, não só pelo aspecto chato, superficial, consumista da coisa,
mas também pelo receio de me aperceber, depois de o fazer, que,
mesmo assim,
continuo na mesma.
Pouco apresentável.
E que a culpa não é da falta de maquilhagem,
está mesmo em mim.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Miam! Miam #12


sandes de brioche com geleia de groselha e manteiga de amendoim




p.s. estava há mais de ano e meio nos rascunhos, este post. ir lá buscá-lo deu para perceber que não como manteiga de amendoim há algum tempo. demasiado tempo.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

In the Mood for... Laugh #22


(Porque, diz quem sabe, rir ainda é o melhor remédio.)


[Estava para acrescentar qualquer coisa.
Quase que me queima a língua.
Mesmo assim, prefiro ir beber um copo de água gelada.]

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Que tal esclarecerem-me, hein? #15


Alguém que me explique por que raio me dizem sempre: 

Ai, peço desculpa!

isto, com o ar mais consternado do mundo - como se eu acabasse de confessar que me diagnosticaram uma doença terminal (lagarto, lagarto, lagarto!) ou o caraças - quando, no decorrer de uma conversa, sou levada a mencionar que estou divorciada.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

E é isto #28

Ando cansada.

Que me desculpem a lógica e a retórica, mas diria até que sou cansada. Pelo menos é o que sinto. Não sei precisar há quanto tempo sou assim. Mas acredito que assim seja há já algum tempo. Alguns anos...
Quatro. Pronto. Está dito. 
Não me deixo convencer disso, porque dói. Mas a grande verdade é que há quatro anos que a vida me é mais cansativa do que supostamente deveria ser. Mais cansativa do que costumava ser. Mais cansativa do que o normal para a minha idade e as minhas actividades diárias. Há quatro anos que sinto um cansaço inexplicável. Pesado. Intrínseco. Invasor. Insuportável. Por mais que tente lidar com ele sem grande alarido, tem-se tornado, a cada dia que passa, mais insuportável. Nem sempre tenho consciência desta minha condição de cansada. Porque faço de tudo para camuflar tal evidência. Para a esconder na minha alegria habitual. Para a confinar num canto insignificante da minha pessoa. No entanto, e apesar destes meus variados subterfúgios, não desaparece. Muito pelo contrário.
Quero acreditar que nunca consegui combater este cansaço porque nunca o assumi directa e efectivamente. E não o assumo por medo. Admito. Temo que me faltem as forças para o combater. Temo perceber, no decorrer dessa batalha, que não sou tão forte como sempre fui. Como sempre fui antes de o cansaço se apoderar do meu corpo e começar a contagiar o meu cérebro que sinto cada vez mais lento. Temo mostrar a quem me rodeia que, de facto, não sou tão forte como continuam a achar que sou.
Escrevo estas linhas e apercebo-me de que nunca verbalizei isto antes. Nunca me sentei para reflectir sobre esta minha condição. Nunca quis assumir como tenho andado nos últimos quatro anos. Aliás, desde que comecei este texto, já escrevi várias frases que apaguei logo a seguir por achar que estava a exagerar. Por pensar que estava a dramatizar. Por sentir que me estava a vitimizar. E o meu feitio agreste não me permite dessas coisas, por mais cansada que esteja.

Nestes quatro anos, vários acontecimentos, não-acontecimentos, circunstâncias da vida, mexeram com este meu estado. Percebi, nesses momentos, que o assunto não estava devidamente arrumado. Tentei remediar as situações intermédias. Olho para trás e acho que só fiz porcaria. Fiz o que pude, mas não fiz nada de jeito. E isso é o que mais me incomoda. Incomoda-me que o facto de ser cansada estrague o meu viver. Lixe a minha vida.
Porque, aos poucos, me fragilizou.
Porque toda eu sou vulnerabilidade, sob esta minha carapaça de gaja forte.



Sou cansada, há quatro anos. É um facto. Está escrito.
Agora vou tentar descansar.



[seis de Dezembro de dois mil e dezassete]

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Jeu de maux en peau et cie



Mon épaule,
contre ta peau, le
plus délectable 
des tableaux,
le plus délicieux  
délis des cieux,
le plus délicat 
des cas  
de conscience,
défiant toute science.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Esper(Alc)ançar-te


Tenho a roupa no estendal,
lá fora,
à chuva,
lavada,
vai para três dias.

Tenho a roupa lá fora,
encharcada,
à espera
que pare de chover.

Tenho a roupa encharcada,
expectante, como a dona,
que se faça sol.

Porque a luz, essa,
por si só, não seca.

Nem roupa, nem lágrimas,
nem feridas abertas.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Fait divers [insignificante de tão oco - depois não digam que não avisei]


Ora bem, parece que o Carlos Costa escolheu, para a sua passagem de ano, um modelito igual ao que comprei, justamente por altura de fim de ano, mas do ano passado.
A verdade é que não usei o dito outfit para o Réveillon 2016/1017. Não, não, não. Aproveitei-o, no entanto, para fazer o cabeçalho ali em cima. [sim, o header tem quase um ano, como podem comprovar aqui, e não estou a pensar alterá-lo tão cedo. engraçado, eu, a recordista nacional de cabeçalhos, a manter um deles por tanto tempo. já não sou o que era, essa é que é essa. a preguiça, o desencanto, a idade e essas coisas todas muito interessantes. enfim.]

Pronto, era mesmo só isto. 
Uma coisita sem importância alguma. 
Quis, mesmo assim, partilhá-la. 
Com a malta. 


Agora, ai de quem venha para aqui dizer que aquele macacão preto, todo ele salpicado a brilhantes dourados, fica melhor ao Carlitos do que a mim.
É que não respondo por mim.
E olhem que já não mordo há algum tempo.
Sou bem capaz de querer matar saudades...

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Para não fugir à tradição


aqui fica a foto possível, como registo do primeiro dia dos meus quarenta anos*.







* diz que, repetir várias vezes, ajuda à aceitação da coisa.

Os temerosos quarenta...


já cá cantam.


Enquanto não tiver um único cabelo branco e me conseguir vestir na secção criança* da Zara, a coisa vai boa.

Ámen.





*[tamanho pré-adolescente, vá]

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Insatisfeita


Nunca pensei que este poderia vir a ser um adjectivo com o qual me identificasse. Aliás, até posso dizer que é um termo que sempre me irritou sobremaneira. Parecia-me atributo de gente, no mínimo, mimada. No máximo, outras coisas mais que não me apetece, de momento, verbalizar. No entanto, aqui estou eu, a aceitar - a custo - as evidências.

Fui-me apercebendo, aos poucos, mas num espaço de tempo relativamente curto, que sou um ser insatisfeito. Ousaria até dizer, intrinsecamente insatisfeito. Os indícios foram claros, a partir de um determinado momento da minha vida. Recente, bastante recente, esse momento. 

Por que razão, uma pessoa com quatro décadas de vida [nem me falem, que estou mais parva do que vocês...], só se apercebe desta sua característica tão tarde? Eis uma pergunta pertinente, que merece toda a atenção necessária, no intuito de se chegar a uma resposta satisfatória. A uma conclusão. E eu que nunca me canso de explicar, de deduzir, de inferir; de concluir.

Quando uma pessoa tem uma vida de merda, não é insatisfeita. Tem necessidades.
Tem todas as razões e mais alguma - e a maior das legitimidades portanto - de se sentir em baixo, de querer mudar a sua condição. 

Eu nunca tive uma vida de merda. Por isso mesmo, nunca tive necessidades. O certo é que sempre achei que tinha a vida possível, tendo em conta o contexto em que me movia, existia. Sempre achei que tinha o necessário. O que merecia. O que me era devido. Sempre achei que merecia pouco, na verdade. E, esse pouco, eu tinha. Para além disso, no fundo, bem lá no fundo, parece-me que sempre acreditei que, um dia, a minha vida poderia ser diferente. Melhor? Sempre acreditei que a minha vida era aquilo que era, mas que, um dia, seria outra coisa. Uma coisa que preenchesse o que faltava. Mesmo eu nem sequer ter tentado imaginar, um segundo que fosse, o que estava efectivamente em falta. Agora, olhando para trás, apercebo-me que sempre julguei que, se ainda nada tinha profundamente mudado, abalado o meu quotidiano, era por ainda não ter chegado a (minha) hora e porque tudo na vida leva o seu tempo. Com alguma demora, irremediável, pelo caminho.

Posto isto. Acredito que sempre fui uma insatisfeita em potência. Não tinha, no entanto, chegado a altura de o admitir. Só quando tomei consciência de que mereço tudo - este mundo e o outro, se, efectivamente, outro mundo existir - é que se tornou inevitável assumir a plenitude desta minha faceta, a somar a tantas outras que me habitam.
De me assumir, com todas as letras, intrinsecamente insatisfeita.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Poda


Há muito que o deveria ter feito,
cuidar daquele jardim.
Mas foi no único dia quente e de sol,
destes onze dias de pausa,
que se agarrou à terra
e a limpou.

Queixou-se das costas,
das pernas,
dos joelhos.
Foram só queixumes,
no dia que se seguiu.

Já chovia de novo,
uma chuva feia e fria,
mas o jardim estava mais bonito,
e a vista da minha janela também.
Obrigada.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Despida


É assim que decido entrar neste novo ano.

Limpa. Lavada. Imaculada.

Sem expectativas desmedidas,
desmesuradas.
Sem resoluções fingidas,
forçadas.



Pura. Crua. Nua.

Sem falsos pudores.
Ou preconceitos castradores. 
Sem pesos nos ombros.
Nem compromissos incómodos.


Limpa, lavada, imaculada;
Despreocupada.




[E constipada, também. Mas, isso, não foi decisão minha.]