segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

E é isto #22 (especial Ano Novo)

Ontem, à noite, comi lentilhas.
Tenho mantido esta tradição há já algum tempo.
Diz que traz fortuna para o ano que, naquele dia, se inicia.
Eu cá, preferia que me trouxesse paz de espírito.
Será que há algum ingrediente milagroso que se deva comer no primeiro dia de Janeiro para isso? Para se ganhar paz de espírito o resto do ano? Todo?
Isso é que eu queria. Mesmo. Comia o que fosse preciso. A pior comida à face da terra marchava sem sequer reclamar [feito considerável, a parte do não reclamar, devo ressalvar]. Metia-a pela goela abaixo. Todinha. E satisfeita, que é outra.
Porque não há coisa melhor do que a paz de espírito. E a saúde. Mas essa, fiz questão de a pedir nas doze passas que emborquei de uma só vez. Já passava da meia noite. Só saúde. Nada mais. Não pensei em pedir outras coisas boas que por aí há.

Há meia noite ainda estava no carro. Estacionamento que é bom, nem vê-lo. Parar à frente de dois carro. Sair para o frio com o fogo já a estoirar no ar. Maravilhar-me, como sempre. Como se fosse o primeiro fogo de lágrimas que visse na vida. Como se fosse uma criança. Porque sou uma criança. Porque só uma pita com as hormonas aos saltos é que consegue dizer que aquelas rosáceas de fogo no céu não têm valor. Passou à minha beira, nem olhei para ela, mas fiquei com pena da moça. E ainda mais satisfeita comigo mesma, por nunca ter sido uma adolescente birrenta. Talvez o seja agora. Um tico. Birrenta. Mas com manias de adolescente, nunca. Criança. Sempre.



Amor. Nunca penso nisso. Mas teria sido outra das possíveis coisas boas a pedir, com as passas agarradas aos dentes. Nunca penso nisso porque sempre achei dispensável. Nunca precisei, a bem dizer. É que não sou dada a sentimentos, como a malta tão bem sabe. Mas, agora que [supostamente] o tenho, deveria fazer um pedido. Pedir que não me martirize o juízo. Pedir que seja calmo e sereno e forte. E brilhante e mágico e surpreendente, como o é o fogo de lágrimas das passagens de ano.
E louco. Sempre. Louco como eu. Para nunca deixar de me sentir em casa. Para nunca deixar de me sentir bem.
Para me conseguir trazer, naturalmente, aquela paz de espírito que tanto anseio.





nota: como tudo o que escrevo - e o que sou - este texto tem um pouco da minha mãe Zremira. escrever é também agradecer-lhe, todos os dias, as palavras inspiradas (e inspiradoras) que me ensinou.

16 comentários:

  1. Que tenhas um bom ano...quando perdemos as manias de adolescente ou de criança...mau sinal(é tão mau só ser adulto)

    boa tarde

    :)

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    1. Bom ano para ti também!
      Penso que nunca fui verdadeiramente adolescente, tendo em conta as características inerentes a esta fase da vida. Mas nunca deix(ar)ei de ser criança. :) (parece-me que ninguém aguenta esta vida sendo estritamente adulto.)

      Boa tarde e bem-vindo, Moonchild.

      :)

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  2. Este post assenta-me como uma luva...poderia muito bem ser eu a escrevê-lo!

    (espero que tenhas percebido que o meu comentário no post abaixo foi uma brincadeirinha. Sou, invariavelmente, um gajo bem-humorado, mas nem sempre bem compreendido)

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    1. Que bom que te assente bem. Gosto sempre quando a malta se sente confortável por aqui. ;)

      (assim vocês me ofende, menino Lynce. achares que precisas de vir aqui explicar/justificar o teu comentário anterior é, sem dúvida, uma prova de que continuas sem conhecer minimamente a Mam’Zelle e olha que já nos cruzamos por este mundo blogosférico há algum tempo... sou inveteradamente uma gaja super bem-humorada e compreendo-te muito bem. Pelo menos, sempre compreendi até agora.)

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    2. És uma querida, pá! Acho que te amo!
      :)))

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    3. Querida nada, fosca-se. Olha lá a minha reputação. Quanto ao resto, nada de mais natural. O contrário é que seria de estranhar. ;p

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  3. Não conhecia a tradição das lentilhas :P
    Um 2017 com tudo de bom! :)

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    1. A sério? Mas olha que já a vou publicitando por aqui há pelo menos três anos… ;)
      Para ti também, Estudante!

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  4. devias ter comido nabos, crus, dizem que faz bem!!!
    Bom ano miúda! Este vai ser daqueles... com 365 dias... e mau tempo, muito mau tempo :D

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    1. Mas faz bem a quê, Manel? À paz de espírito? Ora bolas, podias ter avisado primeiro.
      Bom ano, Manel!! Nããããããããão! Mau tempo não! Xô!

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  5. Bom Ano Mam ´Zelle. Deseejo-te muitas felicidades... Eu também olho com fascinio de criança para os fogos de artificios... Adoro!
    Bisous
    Lili

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    1. BOM ANO, Lili! Eu cá desejo-te tudo do bom e do melhor para este novo ano que agora se estreia. :D
      Gros bisous!

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    1. Isso quero eu, Laura, muito. Vamos lá ver como corre. ;)
      Beijo!

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  7. Três galões por dia é bom para a paz de espírito. Leite e café, a melhor combinação.

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    1. Estúpido.
      Eu dou-te os três galões.
      Em modo recto-verso,
      que até ficas a ver estrelas.
      Daquelas cadentes.

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