
Pois que eu sempre soube que não era, nem nunca seria, uma mulher de sucesso. Fui a melhor aluna da minha turma nos cinco anos (lá em França são mesmo 5) de escola primária. Recebia sempre um livro, no final do ano, à conta disso. A mesma coisa aconteceu nos quatro anos do ciclo. Mas já não recebi nenhuma recompensa por tal feito. Achei muito mal, na altura. Receber um presente como reconhecimento do nosso valor escolar, é sempre bom. Ou melhor, e para ser totalmente sincera, o presente é que sabia mesmo bem, o reconhecimento, esse, nunca me disse grande coisa. No secundário, já não foi bem assim. Nunca fui de estudar muito, nem de fazer os trabalhos de casa (a não ser no 1º ano. O que eu gostava de chegar a casa e dizer à minha avó que tinha de lanchar rapidamente para fazer os devoirs à la maison. Era um orgulho, dizer aquilo. Era sinal que estava a tornar-me grande, como a minha irmã). Encontrava sempre coisas mais interessantes para fazer. Até ao 10º, consegui manter o nível sem grande esforço. Mas, a partir daí, foi mais complicado. Tornei-me numa aluna mediana. Mesmo assim, acabei por obter o Baccalauréat com mention Bien. Fiquei super satisfeita, na altura. Na faculdade, voltei aos meus anos de glória. Acabei o curso com a melhor nota e, penso que foi no ano seguinte, fui convidada para uma comemoração aos melhores alunos dos vários cursos da Universidade de Coimbra concluídos no ano de 2000*. Não respondi ao convite (tínhamos de confirmar através de email), não via qualquer interesse em estar horas numa sala, com os sabichões dos vários cursos, a batermos palminhas uns aos outros. Ligaram-me, a perguntar a razão de ainda não ter confirmado. Expliquei que não estava interessada em comemorações. Lembro-me, como se fosse hoje, do tom de voz da senhora, do outro lado da linha. Ficou muito admirada com a minha resposta. Depois, deu-me uma informação crucial que me fez mudar de ideias num instantinho: ia receber livros e um cheque. É verdade. Afinal, não foi só na escola primária que fui recompensada, na faculdade também. Claro, inscrevi-me na hora e lá fui receber os meus presentes.
Isto tudo para dizer que, mesmo tendo tido um percurso académico bastante razoável, nunca achei que poderia ser uma mulher de sucesso. E não me enganei. Não me enganei nem um tico. O pior é ter a perfeita noção de que a culpa também é minha. Porque nunca sonhei muito alto, porque nunca tive grandes objectivos a nível profissional, porque nunca fui ambiciosa, porque nunca fui lambe botas, porque nunca tive um espírito competitivo. Porque sempre fui assim, como sou. Ainda hoje, não sei bem definir como.
Agora, voltando à tretologia, que é o que interessa aqui, mesmo parecendo que não. E respondendo à senhora tretóloga:
não, não sei.
Se não sei por onde vou, também não posso saber se quero ou não ir por aí...
Era só isto.
*
e pronto, é só a malta fazer as contas e fica já a saber a idade da Mam'Zelle.