22h09' - a caminho dos Azeitonas, acompanhada pelos Maroon 5 e a tomar consciência de que, estes últimos, têm algumas músicas bem chatinhas.
22h25 - chegar e tomar consciência de que vou ter de gramar uma fila maior que as do Rock in Rio. A noite começa bem, portanto. Muito bem, diria até, se considerarmos que o tempo na fila foi passada a ouvir a malta a gritar. Malta a insurgir-se contra a vergonha que é ter de esperar numa fila com uma única bilheteira quando há tanta boa gente de férias forçadas.
22h42' - entrar e, numa das primeiras barraquitas, dar de caras com moços espadaúdos, de fatinho, a prepararem iguarias para o povão que veio ver aqueles-que-cantam-aquela-música-que-um-puto-levou-aos-Ídolos-e-que-também-passa-numa-novela-qualquer. Pergunta da praxe: é de graça? Faça favor, responde o moçoilo que aponta para os amuse-bouche com a mão adornada de uma luva de plástico. Pois que provei de tudo. Destaque merecido para a cereja enrolada em presunto e as tartezinhas (eram mesmo minúsculas, coitadas) de arroz doce cobertas de pedaços de morango.
Apanhada em flagrante delito de gula pura...
22h58' - instalar-me frente ao palco e esperar. O concerto estava marcado para as 23h00'.
23h00' - nada.
23h10' - niente.
23h20' - nothing.
23h30' - rien de rien.
23h35' - nada (desenganem-se, não estou de todo a repetir uma língua, não senhora. Fiquem sabendo que o primeiro foi em Português, este é em Espanhol).
A malta começa a ficar impaciente. Tenho ao meu lado uma senhora que parece ter usado todos os produtos de maquilhagem que deve ter em casa, como se não houvesse amanhã. Tem uma máquina fotográfica CANON, nas mãos. Afinal, tinha acabado o verniz, lá por casa e o acetona também, tal era o estado das unhas da dita senhora. Fiquei a saber que era a mãe de um dos músicos que acompanha aqueles que vão ver os aviões ao porto de Leixões. Estava preocupada (ela, não eu). Deve ter acontecido alguma coisa, de certeza. Eles nunca demoraram tanto (ler com sotaque do Puorto, aquele bem cerrado). Pois claro, tinha de sobrar para mim. Nem de propósito, mesmo. Os gajos nem costumam atrasar-se por aí além, mas hoje apeteceu-lhes. E eu a achar que já chegava atrasada, nem de pintar as unhas tive tempo. Afinal a senhora até tinha verniz em casa, não tinha era tempo.
Já só se ouvem assobiadelas, gritos. E assobiadelas e gritos. E mais, e mais. Confesso que, até eu, por estranho que pareça, já estava a ficar um tanto ou quanto irritada...
De repente, um puto à minha frente, com os seus 10/11 anos, lembra-se de exteriorizar a sua impaciência:
- Anda lá, páááá! Despacha-te, palhaço! Estás a beber um cafezito, hein?
Isto tudo aos seguranças que iam passando, ao manager (soube qual ele era porque a senhora-que-se-excedeu-na-cara-mas-não-quis-saber-da-porra-das-unhas fez questão de o dizer).
- Buuuuuuuuuuuuuu! Despacha lá isso, meu granda burro! Continuava.
- Oh, oh, então?! Anda lá, pááááá! Andamos a brincar ou quê? Entusiasmava-se o puto.
- Oh, oh, então?! Anda lá, pááááá! Andamos a brincar ou quê? Entusiasmava-se o puto.
Assim, até pode parecer não ter graça nenhuma. Mas o que eu me ri com o puto. Tinha uma voz engraçada e uma entoação que nem dá para explicar. Com o cabelito à Justin Bieber e os tiques que daí advêm. Um verdadeiro cromo, portanto. Mas em bom, muito bom. O que eu me ri com ele. E, claro, ao aperceber-se que, alguém, perto dele, se estava a rir com as suas interjeições só o incentivava mais a continuar. Sempre para melhor. E a expressão dos visados, a olharem para o miúdo, incrédulos? Um must!
00h09' - finalmente, o palco deixa de estar vazio e a malta, aos gritos, aplaude aqueles que tinham merecido uns nomes menos bonitos, alguns minutos antes.
2h15' - chegar a casa e desfrutar da recompensa (como costumamos dizer em França, après l'effort, le réconfort) bem merecida. O pão com chouriço, ainda quentinho, ao cheirinho do qual me foi totalmente impossível resistir, ao sair do recinto...
Afinal, és uma rapariga paciente, eu ao fim de tanta espera já tinha dado bronca ou de frosques :)
ResponderEliminar1º - não entendo esse "afinal". Deixei aqui transparecer, alguma vez e à minha revelia, que sou uma miúda impaciente?
Eliminar2º - Mas, afinal, quem lhe disse que eu não dei bronca?
Bom fim-de-semana, Vic :)
Então não dizes que tens pelo na venta? :)
EliminarSim, digo e assumo :) Agora, para mim, ter pêlo na venta não implica ser impaciente. Implica sim defender as suas convicções, não se calar a provocações. Não ter receio de dizer o que se pensa, mesmo que não agrade a todos. Ou seja não comer e calar. Não reger a sua vida pelo que os outros vão dizer ou pensar. Ser senhora de si. Tentar não dar a parte fraca, por muito que possa custar. Enfim, podia estar aqui a tarde toda a enumerar características. Mas, para resumir, equivale mais ou menos ao "ter tomates" masculino.
Eliminarmmmm... pão com chouriço...
ResponderEliminarAh pois, agora também ficaste com desejos. É para aprenderes. Quem te mandou falar em cerejas? :p
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