terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

O mail que vira post #3 ou Porque foi neste mês - que está prestes a terminar - que descobri que ia ser mãe

Quase noutra vida*, um blogger que gostaria de ser pai mas que, desencantado com as relações amorosas, sentia que nunca o viria a ser, fez-me, numa troca de emails, a seguinte pergunta:

Podes contar-me como/porquê é que decidiste tornar-te mãe?                  
 

E, eu, na altura, respondi:

Bem. Boa pergunta. Penso que, como a maioria das mulheres, chegou um momento em que senti essa vontade de ser mãe. Nunca fui de sonhar em casar e ter filhos desde pequena, contrariamente à minha irmã por exemplo que, desde muito cedo, tinha esses sonhos bem presentes. Mas, depois dos trinta, comecei a ter essa vontade. Não posso explicar o porquê. Lá está, é algo que se sente dentro de nós. Uma vontade de ter alguém que se ame incondicionalmente. Uma percepção mais ou menos nítida de que temos capacidades para criar/educar um pequeno ser que se irá transformar num homem ou numa mulher com valores que também são os nossos. Uma vontade de guiar e acompanhar o crescimento/desenvolvimento de alguém que, de certo modo, faz parte de nós mesmo não sendo nosso (no sentido de posse).
E houve um momento em que tive plena noção de que tinha de acontecer. Percebi que tudo o que tinha passado nos últimos anos tinha um propósito: ter um/a filho/a.



Pronto. Por hoje, é mesmo só isto.



* é que esse mesmo blogger já encontrou a mulher da sua vida, através da blogosfera, já casaram e já têm um filho. Ou seja, tout est bien qui finit bien, como se diz lá por França.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Auxiliares de má memória


Amo tudo em ti

escreveu, um dia, em letras pequeninas, no meio de tantas outras frases por ele grafadas também, no verso de uma folha de instruções do Ikea.
Não sei quando escreveu aquilo. [Aqui fica mais uma prova de que se esquece quase sempre de datar, por mais que insista com ele, as mensagens que me deixa.] Não me lembro do dia. Não recordo a hora. Mas revejo-me, nitidamente, naquele momento em que me passou o papel para as mãos e saiu porta fora.
Não era a primeira, nem a última vez, que nos despedíamos de costas voltadas. Mas foi a única em que me deixou registado, num pedaço de propaganda sueca, o que lhe ia lá dentro. No coração. Nas entranhas. Quiçá na alma.
A última, até há bem pouco tempo atrás.

Voltou a pegar numa folha de papel. [Esta, não consegui identificar onde a terá ele desencantado.] Voltou a escrever. No entanto, para além disso, lembrou-se de desenhar também. Rabiscou-me, tal e qual me vê - um bicho volátil, colorido e beijoqueiro.
Escreveu, de novo, coisas bonitas. A diferença é que, desta vez, não as confessou para fechar o ciclo. Não se acobardou por detrás de meia dúzia de elogios e pedidos de desculpa triviais.
Muito pelo contrário.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Esclarecimentos necessários para o bem comum #23

Nunca gostei do morno.
Não se ajusta ao meu ADN,
creio.

Sou mais dada ao quente,
candente.

O frio, esse, também é tentador,
quando devidamente usado,
no calor abrasador.

Ámen.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Matchi-matchi #6


Para aquela malta que está com saudades da Bolachita...

[le perfecto, la jupe en jean, les collants étoilés]


Está a crescer, como todas as crianças.
Apetece dar-lhe beijinhos a toda a hora, como a todas as crianças.
Consegue ser chatinha-que-só-ela, como todas as crianças.
Está a ficar com uma pinta do caraças, como a mãe.









nota: os mais atentos devem ter reparado que a Bolachita ainda não domina totalmente a nobre arte do pôr-a-língua-de-fora. estranho, tendo em conta a minha destreza neste ofício e as inúmeras vezes que me prontifico a exemplificá-lo. acredito, no entanto, que, com a prática e o tempo necessários, chegue lá. eu, mãe extremosa e babada, deposito toda a minha fé nisso.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Cenas que têm o condão de me desassossegar sobremaneira #1


Homens (não uso o termo gajos para não ferir susceptibilidades. pois já estou farta de constatar que este espécimen é deveras susceptível) que te dizem "Tudo bem. Entendi." - ou "Ok... Got it." para os mais cosmopolitas - quando sabes perfeitamente que, na verdade, não perceberam nada de nada. 
Nada mesmo. 
De nada mesmo.










Longo suspiro de desolação.
[E, sim, preferia, de longe, que fosse outro tipo de suspiro. Se é que me entendem...]