Ontem, o meu pai veio cá com um homem para, disse ele, 'dar um jeito ao jardim lá atrás'.
Pouco antes da hora de almoço, foi comprar frango assado para os três.
Para além do frango - e do arroz de cenoura que também veio porque, pelos vistos, fazia parte de uma promoção - o meu pai trouxe-me outra coisa.
- Também te trouxe dois rissóis de camarão, disse ele, estendendo-me um saquinho de plástico.
- Para mim?, questionei, com cara de parva.
- Sim. Então não és tu que gostas muito de rissóis de camarão?
Peguei no saco com os dois rissóis. Foi esta, a minha única resposta. Estender a mão, em sinal de aprovação.
Nunca liguei a rissóis de camarão. Nem de camarão, nem de carne, nem de outra coisa qualquer, para ser mais exacta.
Nunca gostei muito de rissóis. Assim é que é.
Quem gostava - e muito - mas só dos de camarão, era a minha mãe.
Se havia uma festa - fosse ela um casamento, um baptizado, ou outra celebração qualquer com direito a entradas diversas - era certo e sabido que a minha mãe andaria à procura dos rissóis de camarão. Dos rissóis de camarão e das pinças de caranguejo panadas, assim é que é. Os primeiros para ela, as segundas para mim. Porque a minha mãe sempre se preocupou (demais) comigo. Porque a minha mãe sempre quis o melhor para mim. E a satisfação com que me trazia, num pratinho branco com guardanapo a condizer, umas quantas pinças de caranguejo panadas, dizendo já te fui buscar estas porque é a primeira coisa a desaparecer e depois não comes nenhuma, é a maior prova disso mesmo.
Quando íamos de viagem, ou de passeio e que o meu pai parava num café, snack bar ou coisa do género para ir à casa de banho ou beber uma cerveja e refrescar a garganta, a minha mãe dizia-lhe, ó Ramiro, se tiverem rissóis de camarão, traz-me um. Mas só se for de camarão. Tu vê lá. E o meu pai trazia-lhe sempre dois. E a minha mãe ficava toda contente.
Por circunstâncias f*didas da vida (que ainda hoje me custam demais aceitar), nunca mais irá comer rissóis de camarão, a minha mãe. Estou em crer que, a partir de ontem, eu é que irei comer todos aqueles que ela pediria ao meu pai se ainda cá estivesse. E vou ficar contente.
Gosto muito de rissóis de camarão. De todos aqueles que o meu pai me trouxer. Mas só desde ontem.
Beijinhos grandes :)
ResponderEliminarMas eu lá quero beijinhos, Ella? :p
Eliminar(obrigada)
Emocionaste-me, Miúda.
ResponderEliminarBeijinho
Um dos objectivos deste casebre sempre foi fazer (sor)rir a malta. Mas, de quando em vez, lá deslizo um tico...
EliminarBeijo, Sci.
A vida consegue ser muito madrasta e a saudade ataca-nos quando menos esperamos. Um abraço daqueles bem apertados.
ResponderEliminarA saudade está cá sempre. Nunca desgruda da nossa alma. Mas há dias em que essa saudade se materializa, em insignificâncias da vida. E parece que dói um tico mais, é certo. Obrigada. :)
EliminarDe nada, Mam'Zelle. ;) Numa nota mais leve: Obrigada por ter partilhado a receita das bolachinhas mas as minhas foram um flop, porque converti 0,5dl como... Wait for it... 500ml. É... Pois. #étristeserburra
EliminarNão tens de agradecer. Não me custou mesmo nada. :)
EliminarEheheh! Pois, é capaz de ter sido um tico de leite a mais. ;D
#burranada #distraídasim #tristenada #temasuapiada E olha que eu sei do que falo, sou uma despistada inveterada. ;)
(a partir de agora, se voltares a comentar, podes assinar o teu comentário com um nome qualquer? só para eu identificar que és esta anónima e não outra qualquer. É que fico baralhada.)
Mam'Zelle <3
ResponderEliminar*.*
Eliminaros de camarão são os melhores :) mas os que a minha mãe faz, é que são mesmo os melhores...
ResponderEliminaré fantástico como os pais sabem o que é que vamos gostar no futuro... gostei, pra lá de tanto.
São mesmo, Manel. A minha mãe tinha bom gosto. ;) Não duvido. Tudo o que as mães fazem é sempre muito bem feito. :)
EliminarE eu do teu comentário, pra lá de tanto também.
Obrigada, Manel Mau-Tempo.
Bem... um texto destes nem consigo comentar.
ResponderEliminarÉ de ficar emocionada mesmo!
Muito obrigada, Isa, por este teu ‘não comentário’. :)
EliminarQuase não consigo comentar este texto. Deixou-me triste, e depois deixou-me "contente" (não é o adjectivo correcto, mas anda lá perto) por ser uma homenagem tão bonita, e por a tua mãe eternamente ser recordada através dos rissóis de camarão. Dizem que só morre quem é esquecido...
ResponderEliminarMuito obrigada pelo teu comentário, Joana.
EliminarConcordo. As nossas pessoas estarão sempre bem vivas, quanto mais não seja, no nosso coração e nas memórias que revivemos a cada dia.
E logo dois. Uauuu. É amor.
ResponderEliminarO senhor teu pai é um pouco distraído. Ainda bem que não passou para a geração seguinte.
Acho :)
Isso. Isso.
EliminarFuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
Achas nada. E, se achasses, sairias decepcionado.