Vinte de Janeiro

Hoje, duas pessoas importantes na minha vida fazem anos.

 

Uma continua a sê-lo, importante. Muito. Outra, nem tanto. O tempo vai atenuando as coisas e os sentimentos vão-se desvanecendo.

Há uns anos atrás, ligava a essas duas pessoas, no dia vinte de Janeiro. Continuei a ligar a uma delas. Àquela que continua a ser importante para mim. À outra, já não ligo, há uns três ou quatro anos. Deixei de ligar e, por isso mesmo, deixei de sentir aquele friozinho na barriga. Deixei de pensar, uns minutitos antes, nas palavras que iria dizer. Como as iria dizer. Com que entoação. Com que ritmo. Com que balanço. Basicamente - e com o distanciamento necessário - posso dizer que passou a ser um descanso, não ter de ligar à pessoa que já não é assim tão importante para mim. Nunca tive dessas mariquices na hora de ligar à pessoa que ainda hoje é muito importante para mim. Até porque nos ligávamos várias vezes por semana. E o dia de anos era só mais um dia de chamada entre tantas outras. Com um propósito mais definido, muito alegre, sempre com direito a cantoria, mas sem sobressaltos ou mãos a transpirar (por acaso, não sou de transpirar das mão, mas é para dar aquela ideia de nervosismo miudinho que certas chamadas proporcionam).

Este ano, quase que não ia dar para ligar à pessoa que continua a ser importante para mim. Mas, afinal, parece que vai ser possível. E, este ano, sinto um certo friozinho na barriga. Um friozinho muito diferente daquele que sentia ao ligar à pessoa que já não é assim tão importante para mim. Tenho medo de não saber dizer as palavras certas. Tenho medo de não transmitir a força necessária. Tenho medo de não me conseguir controlar. Tenho medo de começar a chorar. Tenho medo de não conseguir ser forte como me tenho esforçado por sê-lo estes meses todos.

 

Tenho um medo danado de falhar. E não gosto nada disso.