Na faculdade, enquanto muitos pesquisavam religiosamente a bibliografia que os professores forneciam - em forma de listas intermináveis, anotadas no quadro, para os mais antigos; entregues em folha A4, para os mais modernos - no início de cada aula, eu preferia registar, meticulosamente, tudo o que saía daquelas bocas e ficar-me por aí. Os meus apontamentos sempre me bastaram para estudar antes das frequências. A minha preguiça nunca me falhou. As boas notas, nas pautas de finais de período, também não.
Nos últimos meses, tive de fazer várias pesquisas.
Ele foi tatuadores,
ele foi sofás,
ele foi poltronas,
ele foi mesas,
ele foi estores,
ele foi estores,
ele foi papéis de parede,
ele foi cadeiras de escritório.
Ele foi mais umas quantas coisas, sei eu lá agora quais, que uma pessoa não se pode lembrar de tudo.
O que eu queria era pesquisar afectos.
Ou ser sobredotada em benquerenças.
Saber quais demonstrações de uns são mais adequadas para manter as outras, em cada imprevisto da vida.
Saber que gesto usar para ser entendida, nos vários desentendimentos que assombram os dias.
Saber que entoação colocar, no momento certo e riscar as desavenças que devoram as horas.
Queria saber o que fazer para não perder minutos preciosos com silêncios desnecessários.
Queria pesquisar comportamentos.
Saber o que dizer quando viras muro intransponível, sem ponta de frincha por onde eu possa entrar.
Cá para mim,
ainda vou ter de pesquisar escadotes.
ainda vou ter de pesquisar escadotes.