Sou pessoa de montar a árvore uma semana antes de natal. E mesmo assim é, indiscutivelmente, mais por ter de ser do que por vontade. É aquela coisa de esperar até à última. A ver se o mundo acaba antes do dia 24 e me poupa a esse trabalho. O certo é que nunca gostei dessa ideia peregrina - e que vai ganhando cada vez mais adeptos - que manda enfeitar tudo quanto é loja e esquina mal desponte o mês de Novembro. Porém, e por mais que doa, tive de morder a língua. Passo a explicar.
Este ano, pensei que seria tudo na mesma, ou seja, calvário da árvore de natal, só depois de meados de Dezembro. [Aliás, e a bem dizer, nem pensava. Não sou de me pôr a ter longas reflexões sobre a época natalícia em nenhuma altura do ano.] Enganei-me. Arrumações e destralhanço ditaram um rumo diferente à habitual história. Desencantei uma árvore que ainda veio de França. Pequenina, jeitosinha, que não dá trabalho para montar nem desmontar, que não precisa de grandes enfeites. Apaixonei-me pela ideia de a ter, a ela, na sala; traindo a tradição que imperava desde que me mudei para esta casa. A árvore de natal era esta. Grande, imponente, que me dava um trabalho danado para montar, decorar e um trabalho ainda mais trabalhoso [redundância propositada e mui relevante] para lhe retirar toda a bugiganga, desmontá-la e levá-la, aos pedaços, até ao sótão. Só consigo levar um pedaço de cada vez. São três. E, depois, são muitas escadas. A Bolachita já as contou umas quantas vezes, só ainda não me apeteceu fixar o número. Burrice minha, que me dava um jeitaço daqueles colocar aqui um número chorudo de degraus para corroborar a minha visão das coisas.
Pois. A Bolachita.
Só havia um pequeno senão, nesta minha traição natalícia sedutora; para lá de perfeita. A reacção da Bolachita.
É natural que uma criança de sete anos prefira uma árvore de natal grande e cheia de enfeites a uma miniatura, a uma mera amostra de árvore. Por isso, tive de rever as condições da minha relação com a minha nova amada. Eu bem queria que ela ficasse só com umas luzinhas. Simples e elegante. Tive de lhe colocar uns berlicoques pequeninos, a ver se a Bolachita se apaixona também. Ficou encantadora, dizem.
O bom disto é que, em vez de ter a árvore de natal quinze dias, a menina-dos-meus-olhos vai poder admirá-la quase dois meses. Nada mau, digo eu. Agora, é rezar para que abrace a ideia, veja o lado positivo da coisa e aprove esta minha pequena traição.
Depois conto se consegui levar a minha avante, junto da Bolachita.
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