Eu, que nunca fui uma apaixonada de loiça por lavar, dou por mim a lavá-la com agrado.
Enquanto passo a esponja cheia de espuma pelos pratos manchados com vestígios de outros prazeres, espero por aquele momento.
Vou
tentando estar alerta. Vou tentado estar atenta à sua chegada. Mas uma
distraída inveterada nunca deixa de o ser. Não consigo dar por ele a
chegar, esse prazer delicado que me leva a lavar loiça com alguma
satisfação.
Quando
menos o espero, lá está ele. De repente, sinto um abraço apertado.
Sinto-te os braços, à volta da minha cintura. Sinto-te as mãos, cruzadas
a aconchegarem-me a ti. Sinto-te os lábios no meu pescoço. A tua
respiração lenta na minha pele. A tua respiração transformada em beijo.
No melhor beijo que se possa receber.
Fecho
os olhos e, por instantes, já não há loiça por lavar. Já não há paredes
à nossa volta. Já não há gente. Já não há mundo. Só tu e eu.
Um contra o outro.
Um com o outro.
Tu e eu.
[19 de Novembro de 2015]
* singela homenagem a Philippe Delerm. Quem pegou o meu livro emprestado que mo devolva. Merci.
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