Fui a única da família a não ter nascido lá. Naquela terra que viu nascer os meus avós, paternos e maternos, os meus pais e a minha irmã.
A minha irmã que não pode ter sido trocada na maternidade, visto ter nascido à lareira, na cozinha da casa da minha avó, a mamie Z, de quem já falei mais por aqui do que agora, mas que continua tão presente em mim.
A minha irmã que não pode ter sido trocada na maternidade, visto ter nascido à lareira, na cozinha da casa da minha avó, a mamie Z, de quem já falei mais por aqui do que agora, mas que continua tão presente em mim.
A minha irmã nasceu na terra. As parteiras foram as irmãs da minha avó. Não houve cá trocas possíveis. Ficou tudo em família.
Comigo não.
Eu não nasci na terra. Nasci em França. Numa maternidade. Ninguém sabe se fui trocada. O certo é que sempre ouvi dizer, enquanto criança, que era uma possibilidade.
Ao contrário da minha irmã. Que nasceu na terra. Que é filha da terra. E, seguramente, filha daqueles que, tal e qual como ela, sempre considerei meus pais.
Ao contrário da minha irmã. Que nasceu na terra. Que é filha da terra. E, seguramente, filha daqueles que, tal e qual como ela, sempre considerei meus pais.
Apanhar o IP3. Sair em Tondela. Passar por Molelos, onde a minha mãe costumava comprar chouriças à senhora que tratava toda a gente por meu amor, com aquela sua vozinha de mel do mais enjoativo que possam imaginar. Mania, ou ousadia, que eu nunca entendi e não suportava. Campo de Besteiros e a Joaninha dos pastéis de nata gigantes. Chegar ao Caramulo. Mais uns quinze minutinhos até poder parar o carro, após hora e meia de viagem. Passar Monteteso, terra cujo nome - que se avista na placa à entrada do sítio - me deixa sempre com um sorrisinho malandro nos lábios. Mais à frente, cortar à direita para não ir ter a Oliveira. A partir daí, é sempre em frente. Já não há canal de rádio que se apanhe em condições. O que vale (será mesmo?) é estarmos quase a chegar à terra.
Chegar.
Passar frente ao café do meu tio. Por ser Agosto, a esplanada está sempre cheia de familiares que se viram para a estrada mal ouvem um carro a aproximar-se. Perceber que, a partir daquele momento e nas horas que se seguem (ou dias, talvez), seremos o principal tema de conversa. Toda a gente sabe alguma coisa. Toda a gente tem uma opinião que apresenta com fulgor. Toda a gente julga que percebe da vida dos outros. Raramente alguém está certo.
Foram só dois dias.
Chegaram a ser quatro, quando ainda se estavam a combinar as coisas. Mas, rapidamente, percebi que não poderia abdicar do meu sábado. Depois, ficou em três. Afinal e em boa hora, consegui escapar-me também à quarta-feira. Assim, mesmo nas últimas. Fiquei sem a noite de sardinhada - com pimentos assados e pão de milho - que tanto gosto. Mas valeu-me o sossego de mais um dia em casa.
Foram só dois dias. Pareceu quase uma eternidade.
Não sou da terra. Aquela gente, neste aspecto, sempre teve toda a razão.
Nunca o fui e, a cada ano que passa, ainda o sou menos um pouquinho.
E ainda bem.
É que nem do Cabeço Grelheiro,
espectador imponente das minha brincadeiras de infância,
ficam saudades.
É que nem do Cabeço Grelheiro,
espectador imponente das minha brincadeiras de infância,
ficam saudades.
Como Ella te conhece o sentimento...
ResponderEliminarTu a falares da "tua" terra e Ella a ver espelhada a terra para onde foi atirada...
Aquela terra não é minha (nem mesmo com aspas). Será que não ficou suficientemente bem claro?! :p
EliminarA minha sorte é só lá passar dois dias por ano, já tu…
FORÇA!
Visito-te há bastante tempo e sempre que leio ou vejo coisas sobre Coimbra, penso na probabilidade de, casualmente, nos cruzarmos.
ResponderEliminarAgora o que eu nunca pensei é que nos pudéssemos cruzar fora daí! À medida que ia lendo o post, ia ficando cada vez mais admirada, pela proximidade geográfica com a nossa aldeia. Como diz uma amiga minha, o mundo é um T0... conhecemos tão bem essa zona!
À falta de melhor, quando voltares foca-te na sopa seca de Alcofra e nos pastéis de Vouzela, que a viagem valha pela gastronomia! :)
Bem… agora fiquei com medo. Nunca pensei que pudesse passar por aqui alguém daqueles lados. É burrice minha. Tenho perfeita consciência disso. Até porque por lá também se apanha a internet. Mas é-me muito estranho. Vai-se a ver e ainda somos familiares. Aí era mesmo o fim da picada. Credo! ;D
EliminarConheço bem as duas especialidades que referes. Não sou apreciadora nem de uma nem de outra. Ou seja, também não será por aí que me vou 'reconciliar' com a terrinha… :p
:) Também temos essa sensação com o nosso blog, que ninguém conhecido nos vai encontrar!
EliminarMas não te preocupes, somos do mesmo concelho, mas não temos família lá! A nossa mãe foi professora em Farves (final dos anos 70/80) e apanhou muitos alunos daquela zona. De certeza que alguns familiares teus foram alunos dela :)
Deixa ver se percebi. Viveste por lá uns anos durante a tua infância, mesmo não sendo de lá. E, agora, vives em Coimbra. É isso?
EliminarAinda nem estou em mim… ;)
A nossa mãe foi professora em Farves no final dos anos 70, inícios 80, e apesar de sermos de uma aldeia próxima, durante esse tempo, vivemos lá (eu só vivi lá uns meses, nem sequer me lembro). Depois disso, já vivi em Coimbra (1998-2002 e 2011-2014) e continuo a ir lá com alguma frequência. (E também vivi no Caramulo!) Mas agora vivo com a minha irmã e a minha avó num aldeia de Vouzela!
EliminarCoincidências da blogosfera! :)
Ok. Ok. :)
EliminarEu conhecia a professora de Farves que deu aulas nos anos 80. Deve ter substituído a tua mãe.
Ele há coincidências do catano. Mesmo! ;D
Sem dúvida!! Beijinhos e vamo-nos cruzando por aqui!
EliminarBeijinhos, Carla. Vamos sim. ;)
Eliminardevias de arranjar outra terra, só tua :)
ResponderEliminarEra bom, era. Mas não me parece que vá a tempo… :)
Eliminar:\
ResponderEliminarPára tudo! A Anouska ficou sem palavras.
EliminarAssim não há condições, porra. ;D