No passado sábado, como já disse, fui à festa de aniversário da filha da minha melhor amiga. Estava lá muita gente, como é natural. Mas, se não se importarem, vou falar de duas pessoas em particular.
Vamos à primeira pessoa.
Estava eu no meio da sala, com o meu prato de plástico na mão esquerda e o meu garfo, também ele de plástico, na mão direita a comer uma fatia de um semi-frio que estava uma delícia (a base de bolacha estava um tico dura, mas eu lá me desenrasquei), quando se chega à minha beira a mãe da aniversariante (se estão a seguir a história como deve de ser, perceberam que é a minha melhor amiga e, para facilitar as coisas, vamos supor que se chama Maria) com uma amiga e lhe pergunta: "Lembras-te da Mam'Zelle, certo?". E a moça responde, com um daqueles sorrisos enjoados típicos de gajas que têm o dom de me pôr mal disposta num instantinho, "hum... não sei... sou capaz de ter uma vaga ideia..." Eu cá respondi-lhe logo "Pois eu lembro-me perfeitamente de ti" e acrescentei com a ironia que tal situação merecia "mas não me admira nadinha que não te lembres de mim. é muito habitual as pessoas que privam comigo esquecerem-se da minha pessoa."
Passemos à segunda pessoa.
Estava eu sentada na cozinha, a dar o jantar à Bolachita, quando chega à minha beira o tio da aniversariante (irmão da Maria), com um primo e diz-lhe: "Olha, esta é a Mam'Zelle, amiga da minha irmã desde os tempos de faculdade". E o rapaz responde: "Eu sei, já não a via há muito tempo, mas lembro-me perfeitamente dela, lá em Coimbra, numa festa de anos da tua irmã, num dos primeiros anos de faculdade."
Voltemos por breves instantes, à primeira pessoa. Conheci-a na universidade, logo no primeiro ano. Era muito amiga da Maria. Saímos várias vezes juntas, com mais pessoal é certo, ao longo dos quatro anos de faculdade. Depois disso, via-a todos os anos, na festa de aniversário da Maria. E não eram festas com multidões. Umas quinze, vinte pessoas, no máximo. Só nos últimos dois anos é que a Maria não tem festejado os anos e, por isso, não a vejo desde então. A verdade é que nunca conversámos, porque nunca achei que fosse pessoa com a qual gostaria de perder o meu tempo numa conversa. Era "Bom dia", "Boa tarde". O normal entre gente civilizada.
Quanto à segunda pessoa, como ela própria referiu, viu-me uma vez, numa festa em que, por mero acaso, também estava a primeira pessoa. Nunca tive longas conversas com ele porque, como devem ter percebido, só nos vimos uma vez. E não calhou.
Agora, fico para aqui a pensar.
É que uma pessoa tem de tirar lições de vida de qualquer fait-divers por mais insignificante que possa parecer.
Das duas uma, ou as gajas têm propensão para a amnésia (é que não foi a primeira a não se lembrar de mim em circunstâncias muito semelhantes e, acredito, também não será a última) ou, então, em vez da expressão "memória de elefante" deveríamos usar "memória de gajo".
E é isto.