Elogiaram-me os dentes.
Nunca, antes, o tinham feito.
Ou, então, não me lembro de, algum dia, ter tido essa sorte.
Elogiaram-me os dentes e a forma como são emoldurados pelos meus lábios.
Foi assim. Acho*.
Não tenho uma total certeza do que acabo de escrever porque, mal me elogiaram os dentes (e, disso, não tenho dúvidas), a estupefacção foi tanta que, por mais que quisesse absorver o que foi dito depois, as palavras seguintes não entraram tão nítidas, por mim adentro, como as primeiras que ouvi.
Elogiaram-me os dentes e, para além de a surpresa me levar a abrir mais um pouco os olhos, também me entreabriu os lábios num sorriso tímido. Porque, por mais que nos saiba sempre bem receber elogios [por mais encavacados e sem jeito que fiquemos], melhor sabem aqueles que são ditos - e passam a existir - fora da caixa. Aqueles que não encaixam no manual do elogio que inconsciente e erradamente nos é imposto.
Aqueles elogios que, dificilmente, iremos esquecer. Sendo que, no que à lembrança diz respeito, não só às palavras ditas me refiro, como ao(s) autor(es) das mesmas também.
* se assim não foi, que me corrija, por favor, quem de direito.
[treze de Novembro de dois mil e tal]