terça-feira, 11 de agosto de 2020

A verdade sai da boca das crianças, dizem.


Quando a vou deitar - e depois de lhe contar uma história, ou ela a mim - tenho de ficar sempre um tempinho com ela. Já de luz apagada, de mãos dadas e com a minha cabeça encostada à dela. Nesses minutos, dificilmente se mantem em silêncio, por mais que lhe diga que tem de fechar os olhos e tentar dormir.

- Mamã, ainda doí-te muito o teu dói-dói?
- Bué.
- És muito corajosa, minha mamã linda. [afirmação finalizada por um beijinho na minha mão.]


[quinta-feira, dezoito de Junho de dois mil e vinte]

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Esclarecimentos necessários para o bem comum #30


Se tivesse de me definir, numa palavra, não escolheria, com toda a certeza, a palavra "mulher". Nem tão pouco a palavra "mãe" seria a minha escolha.

Nunca me identifiquei com a maioria das características que são tidas como femininas. Não partilho os supostos gostos/interesses do mulherio. Faço questão de ir à casa de banho sozinha e nunca recorri aos serviços de uma manicure.
Vivi trinta e cinco anos da minha vida antes de conhecer a realidade da maternidade. Quase a minha vida toda, portanto. Seria extremamente redutor, a meu ver, definir-me essencialmente como mãe. Nada contra aquelas pessoas que só perceberam quem realmente são, que só descobriram a razão da sua existência e só se sentiram vivas e completas depois de terem dado à luz. Agora, o certo é que não me revejo minimamente nesse tipo de filosofia.

Se tivesse de me definir, numa só palavra, diria, inequivocamente, que sou uma pensadora. Sou, de facto, essencialmente, um ser pensante.
Atenção. Não uso, nem quero que entendam, este termo no sentido simplista que é, geralmente e uma vez mais, atribuído aos seres de sexo feminino. Sabem, quando se quer caracterizar alguém e se diz "Ai e tal... aquela gaja pensa muito."? Estão a ver aqueles pensamentos, quanto a mim bobos, que, geralmente, mais não são do que o remoer de cenas frívolas e sem interesse profundo? Conseguem destacar alguém do vosso círculo familiar, de amigos ou conhecidos que está sempre a fazer perguntas porque, simplesmente, não sabe lidar com o silêncio? Que, grande parte das vezes, dá logo a seguir uma resposta tão banal quanto a pergunta ou que, simplesmente, nem espera pela resposta porque não interessa nem ao menino Jesus? Não é de nada disso que estou aqui a falar.
Uso o vocábulo 'pensar' no sentido de reflectir, de analisar, de ponderar, de criticar (no seu sentido mais lato). De, constantemente, desconstruir para melhor entender. De Pensar. Ponto.
Ou seja, o que melhor me define é a capacidade de pensar e de jamais, em momento algum, deixar que o façam por mim.
E isso é lixado.
É cansativo.
Extenuante, por vezes, até.

Saber-me-ia para lá de excelentemente bem, de vez em quando, deixar andar. Aproveitar a onda e aceitar o pré-estabelecido como sendo o certo, tal e qual tanta gentinha-feliz-da-vida faz. Interiorizar o politica e socialmente correcto e fazer disso lei absoluta para me reger, dar-me-ia, a mim e à minha cabecita pensadora, umas férias do caraças. Trar-me-ia uma paz interior, própria de gente básica, bastante tentadora. Sedutora, até.
É-me, no entanto, impossível.
Não dá.
Não consigo.

Infortunadamente,
não posso.

E, pensando bem,
não quero.







nota: numa era onde a palavra "feminismo" virou moda estampada em t-shirts e afins, tenho plena consciência do quão 'crucificada' posso ser por algumas considerações que teço. O certo é que grande parte de quem desfila, com a palavra a baloiçar no peito, não tem noção do seu significado. Nem tampouco faz um escaravelho (para não usar outra palavra que, com esta, rima) para apoiar a ideologia que tal conceito abraça, muito pelo contrário.