Tenho chorado mais do que seria de esperar, nos últimos tempos.
Nunca fui de lágrima fácil.
Desde pequena que sempre me senti uma insensível de primeira. Na altura, tinha a minha irmã como objecto de comparação mais próximo. E ela chorava muito. Por tudo e por nada. Era a irmã mais velha. Um exemplo, portanto. E chorava muito. E eu sentia-me uma má pessoa por não chorar como ela.
Lembro-me de ver as lágrimas escorrerem-lhe pelas duas faces todos os dias, quando terminava mais um episódio de La petite maison dans la prairie (se não me engano, Uma casa na pradaria, por cá). E sentia-me mal. Cheguei a beliscar-me, para ver se as lágrimas também me vinham. Mas foi só uma vez. Que aquela cena até doía e, lágrimas, nem vê-las.
Bastava o meu pai (ou a minha mãe, ou a minha avó) falar-lhe de forma um pouco mais rude, que ela desatava a chorar. Quando sobrava para mim, ficava tipo petrificada e lixada por dentro, mas nem uma lágrima me saía.
Essa cena estranha de eu não chorar mudou. Depois de a minha avó morrer (devo estar a usar este verbo pela primeira vez, falando da minha avó e continua a custar-me usá-lo), passei a chorar com maior facilidade. Evoco um assunto mais sensível e, inevitavelmente, as lágrimas nascem-me dos olhos. Por mais que tente segurá-las por lá, começam a correr feitas doidas até aos cantos da minha boca. Não consigo controlar. E isso irrita-me profundamente. Mas tenho de me render às evidências. Não há nada que possa fazer para voltar a ser a miúda (aparentemente) insensível que outrora fui.
Tenho chorado muito mais do que seria de esperar, nos últimos dias.
Para alguém que iniciou um novo ano há pouco, toda entusiasmada e confiante de que esta nova etapa seria mais bela e feliz, bem que me lixei.
Agora é aceitar as coisas como elas são e seguir em frente.
Aliás, como sempre fiz.