Não gosto dele. Nem pouco nem muito. Nada.
E não é só por me deixar o nariz vermelho que nem palhaço em dias de circo, que não o suporto. Nem por todas as outras razões óbvias que, em tempos, apresentei
aqui e
aqui (é clicar, pois). É também por me deixar sem vontade de fazer nada. Com frio, uma pessoa nem se consegue mexer. Com frio, uma pessoa congela. Com frio, uma pessoa deixa de ser quem realmente é para se transformar numa espécie de estátua. Isso mesmo, petrifica. Não consigo ver o maldito fenómeno de outra forma.
Mas ainda me falta falar do pior, malta amiga.
O pior do frio, para mim, são a porra das frieiras.
Já não tinha frieiras há uma data de anos. Há uns dez, para ser mais exacta.
Deixaram de me aparecer, quando passei do meu T0 de estudante, onde só tinha um aquecedorzito a óleo, para o meu T2 de... 'gente crescida' - vamos dizer assim - com aquecimento central. Nunca mais tive frieiras. Porque nunca mais tive a casa com menos de 20ºC.
Lembro-me da primeira vez que elas me apareceram, as malvadas. Lembro-me nitidamente. Foi no inverno de mil novecentos e noventa e seis. No meu primeiro ano em Portugal. No meu primeiro ano de faculdade.
Numa dessas noites, em que a minha mãe me ligou como fazia regularmente, perguntei-lhe o que seria aquilo. Expliquei-lhe que, estranhamente, estava com os dedos inchados, vermelhos e, para ajudar à festa, com dores. E, a minha mãe, num misto de gozo - por a filha com dezoito anos não saber o que são frieiras - e de preocupação - porque as mães preocupam-se sempre - lá me revelou o que aquilo efectivamente era.
Pois bem. As frieiras voltaram. Uma década depois.
Agora a casa é maior e acredito que o isolamento também não seja dos melhores. O certo é que nunca está a mais de 17ºC aqui dentro.
E as minhas mãos não gostam disso.
Nem os meus pés.
Nem as minhas pernas.
Nem o resto do meu corpo todo.
E só penso na primavera.
E no tempinho mais ameno.
E no meu nariz a voltar à cor do resto do rosto.
E nas minhas mãos de volta ao normal.
E no meu corpo a ganhar genica outra vez.
Xô, inverno sem gracinha nenhuma!